sábado, 10 de julho de 2010

Futebol de Gabinete

Vai o sangue, vêm as lágrimas

Após semana de reflexão e estudo sobre o 3º maior clube no futebol português, desde sempre candidato ao título, irei expor as minhas principais conclusões no plano organizativo, financeiro e desportivo do Sporting Clube de Portugal.

Neste sentido, darei a minha opinião (fundamentada em dados reais) sobre o plano financeiro, o plano administrativo e o plano desportivo, os 3 pilares que sustentam um clube de futebol e a forma de gerir o seu sucesso.

A evolução financeira do Sporting nos últimos 5 anos é-nos apresentada da seguinte forma (dados dos relatórios e contas oficiais retirados do site oficial do clube):




















Como verificamos, a evolução financeira do Sporting não tem sido nada favorável nos últimos anos, seguindo numa espiral de queda quer em termos de receitas (bilheteiras, merchandising, direitos televisivos, lugares cativos, etc) quer em termos de resultados líquidos (lucro/prejuízo). Tais factos prejudicam e muito a capacidade do clube em desenvolver um plantel competitivo e que, consequentemente, não atrai adeptos ao estádio.

A saída de Soares Franco e a entrada de Bettencourt, ao contrário de anteriores passagens de testemunho, decorreu (aparentemente) sem resílias e escaramuças entre presidentes, como sucedera anteriormente. Para muitos o melhor presidente de sempre do Sporting, Soares Franco deixa um legado de elevada responsabilidade ao seu sucessor, pois vejamos: um técnico já bastante fragilizado (Paulo Bento), resultados financeiros em quebra e um plantel pouco competitivo. Não obstante os erros cometidos por Bettencourt, a situação que herdou não era de todo famosa.

Um dos principais problemas da era Bettencourt está em conseguir um director desportivo competente e compatível com a estrutura e a cultura do clube. De Sá Pinto já lhe conhecíamos as «entranhas», pelo que não nos surpreendeu a sua saída prematura e o caso com Liédson (também ele outro reincidente), onde chegou mesmo a vias de facto. Seguiu-se Costinha que desde logo começou por revelar problemas com Izmailov (até aqui um jogador sem cadastro) e, outras vezes, proferir um tom de discurso e afirmações profundamente infelizes e de «comando militar». Causa ou consequência, o director desportivo não se livra de responsabilidades no «caso Moutinho», que aproveitou bem a fragilidade do seu director desportivo.

Parece-me, afinal, que não era o Moutinho a maçã podre mas sim o pomar que já só dava fruta do chão. Bettencourt e as suas atitudes, Sá Pinto e a sua violência, Costinha e a sua intolerância, Liédson e as suas mimadices, Izmailov e a sua disponibilidade física, Vukcevic e a sua impaciência, Polga e o seu desinteresse, Veloso e o seu amor pelo clube, Moutinho e a sua ambição. Todo este grande pomar parece estar podre e muito dificilmente o Sporting sem uma renovação conseguirá manter-se na maturidade.

São visíveis os efeitos da má gestão desportiva do clube nos últimos anos, onde em detrimento de se ir progressivamente e consoante as posses melhorando uma ou outra posição por época, o Sporting vê-se agora obrigado a renovar umas 4 ou 5 posições. O ciclo de poucas vitórias correlaciona-se positivamente (não favoravelmente) com a ausência de novas gerações de adeptos, especialmente se esse período se estender a mais de 10 anos.

Para agravar a coisa, é expectável que, tendencialmente, as receitas do clube caiam ainda mais este ano já que não me parece que com o sucedido nesta pré-época a afluência dos adeptos seja diferente da do ano passado. Mais grave ainda se o Moutinho render o dobro agora no Porto e aí voltarão as lágrimas, as mesmas da final de 2005.

Jorge Manuel Honório, Finance analyst

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