quinta-feira, 1 de julho de 2010

Os “esfomeados” da crítica

Então já levantaram toda a poeira? Já criticaram tudo? Não gostaram de ver a selecção no Mundial? Eu também não! Fizemos um bom Mundial? Não! Fizemos um mau Mundial? Também não. Foi o expectável, o razoável, o admissível e ainda o possível! Queiroz tem culpa? Sim alguma. Tem culpa na convocatória? Sim, teve escolhas duvidosas! Leu mal o jogo frente à Espanha? Sim, de início leu bem, a meio do jogo perdeu-se a leitura! Queiroz fez mal as substituições? Sim fez, no lugar dele não tiraria Hugo Almeida. Mas de fora é muito fácil, pois ainda me lembro de em 2006 frente à França, estarmos a perder e Scolari fazer uma semelhante (saiu Pauleta e entrou Simão, ou seja, a perder e sem avançado). Ao menos em 2010 fizemos isso com o resultado ainda igual, embora mal feito. Queiroz tem culpa da geração e do estado actual do futebol português? Não, não tem! Éramos favoritos? Só um louco podia pensar assim! Tínhamos equipa para se bater com as selecções mais fortes? Nunca! Se queriam ser campeões do Mundo, perderam uma bela oportunidade de ser em 2006, aí sim com uma excelente geração e todos no auge. A equipa que esteve na África do Sul metade era inexperiente, a outra metade eram velhos, sem ritmo, que passaram a época inteira lesionados e ainda tínhamos o suposto melhor do Mundo (???). Se podíamos sonhar? Sim podíamos. Até eu sonhei, até os norte-coreanos podiam sonhar. O sonho é diferente da realidade. Todos vocês sonhavam? Faziam bem, mas a culpa de sonharem é do Queiroz? Tudo bem que o discurso dele foi nesse sentido, mas cabia a cada um de nós avaliar as reais possibilidades na competição. Passámos o grupo e perdemos frente à campeã europeia. Discutir o jogo com a Espanha? Saíamos de lá tão bem vistos como Inglaterra, Itália ou França. Em dez jogos não ganhávamos um à Espanha. Queiroz apenas tentou ser o mais realista possível. Se gosto de ver Portugal só a defender? Não, mas sei que era a única hipótese de ter sorte, e ainda assim muito difícil. Aposto que Mourinho no lugar de Queiroz tinha jogado ainda mais à defesa. Eu pelo que vi, fico descansado por ter percebido que todos (Ronaldo não incluído, pois penso que deveria ter mais cuidado com o seu ego) deram o máximo que podiam e isso já me satisfaz…

Resumindo: Queiroz foi contratado para ser campeão do Mundo? Óbvio que não. No actual momento a prioridade é que Portugal seja campeão do Mundo? Eu no meu ponto de vista não! Temos que começar a pensar a longo prazo, porque não temos praticamente nada no presente. O trabalho de Queiroz reside nesse ponto, conseguir criar uma geração decente para enfrentar o futuro. Até pode nem conseguir fazer nada no próximo Euro, pois eu só o avaliarei no próximo Mundial, pois é aí que o seu trabalho tem que dar frutos. Então e de momento? Para mim já será bom conseguir as qualificações e passar as primeiras fases, o resto serve para dar experiência. É que se vamos apostar tudo no presente, com um qualquer velho do Restelo (pois não vejo quem, de qualidade, possa ocupar o lugar de seleccionador), podemos fazer com que os nossos netos estejam praticamente 30 anos sem ver Portugal num Mundial, assim como nós estivemos de 1986 a 2002. E quem fez com que houvesse uma geração de continuidade no nosso futebol, capaz de alcançar enormes feitos e com regularidade? Foi Scolari? Pois pesquisem sobre a história do futebol português. E deixem-me dizer que eu nunca fui, não sou, nem nunca serei defensor de Carlos Queiroz. Não gosto é da crítica fácil! Lembram-se de Iñaki Saez? Um dos piores no cargo de seleccionador espanhol. Pois é verdade, mas também foi ele que formou toda esta geração actual, que depois de ser vergonhosamente eliminada em 2004 pelas suas mãos, é agora uma das mais fortes do Mundo e campeã europeia. Saez lançou a maioria destes jogadores, e sempre que os ouvimos falar, eles dizem que se torna mais fácil quando se joga muitos anos seguidos juntos.

Pois vejamos (pensando a médio prazo, num futuro máximo de 4 anos). Guarda-redes: Eduardo (escolha mais que consensual) e ainda temos Beto/Rui Patrício, podendo escolher o que estiver em melhor forma. Defesa: Bosingwa e João Pereira (que agora se percebe que é bem melhor que Miguel e Paulo Ferreira juntos); Bruno Alves (para mim apesar de o detestar ver semear pancada e destilar ódio na Liga Sagres, seria o capitão ideal), Rolando, Zé Castro e D. Carriço (que pode muito bem ser o sucessor de R. Carvalho); na esquerda temos F. Coentrão e depois falta a alternativa. No miolo temos Pepe, M. Veloso, J Moutinho, R. Amorim, Tiago, R Meireles e R. Micael (já vimos que não precisamos de jogar com um dez como Deco, logo estes dão garantias). Nas alas: Nani, Danny, Cristiano Ronaldo (sem braçadeira), Varela e R. Quaresma (caso volte a jogar com regularidade). Avançados: É o problema do costume. Com Hugo Almeida podemos contar, e depois? Makukula? Djaló? João Silva (deverá ser o novo Vaz Te)? Orlando Sá? Saleiro? Este ainda me parece o menos mau, caso jogue. Kevin Gameiro? Seria uma boa opção. Mas já deu para reparar que Queiroz tem material para construir um núcleo-duro para 2014. Ao menos conseguimos pensar que temos um conjunto (coisa que não existe). É na lateral esquerda, onde é necessária alternativa de valor, e na frente de ataque, que está reduzida praticamente a nada, que o seleccionador vai ter de arranjar soluções e formar jogadores de modo a resolver os problemas. A juntar a isto ainda temos nomes jovens que podem aparecer: Castro, Ukra, André Santos, Diogo Rosado, Paulo Machado, Roderick, N. Oliveira, F. Faria… Para não falar daqueles que aparecem e sobem na carreira do nada, a quantos não acontece isso (o último foi R. Micael, que apenas precisou de meses para chegar à Selecção Nacional).

É este que penso que tem que ser o papel de Queiroz. O seleccionador nem devia ter medo da pressão e deveria fazer já esta renovação. É certo que também precisa de resultados, e que Simão, Pedro Mendes e R. Carvalho, por exemplo, ainda seriam úteis e mereciam continuar no lote, mas Queiroz tem que ter a coragem de enfrentar a crítica e mudar, renovar, de forma a existir futuro. Não lutar por resultados imediatos, mas sim, fazer com que este grupo daqui a 4 anos tenha rotinas, e que seja levado a sério. Pois neste Mundial, nunca levei este grupo a sério. A não ser em sonhos. Queiroz tem culpa da descrença? Pode ter, mas o problema vem de trás.

Logo não compreendo tanto “bruááá” à volta da selecção. Comparam esta situação à vivida em 2002? Não devem estar bem da cabeça! Há críticas a fazer? Há, mas tudo isto parece um folclore, em que se critica por criticar, e se tenta dizer a frase mais polémica de todas. Aproveitando este facto, lanço uma deixa: Após este Mundial todos temos uma certeza. Ganhámos um guardião para o futuro! Para além da qualidade evidenciada, encheu todos os portugueses de orgulho. Agora pensem se Queiroz também pode ser criticado nisto? É que eu bem me lembro que, antes do início do Mundial, apenas o seleccionador nacional acreditou nele. Ninguém depositava um cêntimo de confiança em Eduardo (nem eu próprio), e o mérito nesta situação é de quem? De Eduardo? Não! Mas como nós estamos “esfomeados” de crítica (negativa), só nos lembramos do que nos convém. Hoje já ninguém se lembra de Quim…

Há um sentimento muito contraditório nisto tudo, é que os mesmos que sonhavam e exigiam (irracionalmente) que Portugal chegasse à final, eram os mesmos que estavam desejosos que Portugal caísse para poderem desancar em Queiroz. No início ninguém acreditava no seleccionador, só nos sonhos e nos “feelings”, mas no fim para “bater” já é nos homens de carne e osso, e não fazem uma auto-crítica sobre a forma como sonharam desmedidamente. Os mesmo que criticaram ferozmente o empate frente à Costa do Marfim (que nos deu a qualificação), foram os que mais efusivos ficaram com a goleada à Coreia do Norte, não percebendo que tirámos (muito bem) partido do balanceamento ofensivo e do cansaço dos pobres coreanos. Podíamos ter passado em 1º? Podíamos! Evitávamos a Espanha? Ninguém sabia, mas era uma possibilidade! Pensavam que iam até à final a apanhar o Japão, Paraguai, Chile e depois Uruguai, no jogo decisivo, por exemplo? Pois, o problema do país é os “esfomeados de crítica”. Tal como na vida social gostam de viver acima daquilo que podem!

O mais triste disto é que parece que essa gente ficou mais contente com a derrota, pois assim podem criticar (sem razão) tudo e todos, do que com a vitória, caso ela aparecesse…

Despedir Queiroz? Volto a insistir que nunca fui um adepto de Queiroz, e continuo a não ser, mas quem pensa na sua saída só pode estar a querer desejar um futuro muito negro à “nossa” selecção!!! Antes da crítica, deveria haver reflexão (daí só escrever hoje)...

P.S.: Para todos os efeitos só daqui a 4 anos saberei se a minha reflexão foi a mais racional!
Ahh e deixem-me dizer que depois da resposta à situação de Cristiano Ronaldo, sobre "a camisola ser pequena..." foi o melhor início de Queiroz no novo ciclo, pois chame-se Ronaldo, Deco, Nani, ou Zé da esquina, a selecção está acima de tudo!


João Vasco Nunes - Canto Curto especial Mundial'2010

1 comentário:

MarBurG disse...

Mantenho o que disse, a convocatória foi mal feita. Íamos jogar para não perder, e ficou provado isso.

Ronaldo não tem estofo de capitão, pode vir a ter mas não tem nem de perto (da mesma forma que na Argentina o Messi tb não tem apesar de o ser às vezes e o capitão é o Marcherano).

Continuando, não podemos ter vedetas a vir-se queixar que não gostam de jogar ali ou acolá por muita razão que tenham ou deixem de ter. (Tem de haver mão pesada nestes casos)

Naturalizei-se para ser titular --> nem sei se vale a pena comentar, acho que todos pensam o mesmo que eu.


Em relação ao teu comentário Jota, só acho que incluía nesse lote de jogadores o Carlos Martins se voltar a fazer a próxima época como esta. Tb adicionava Miguel Vitor, não vejo potencial no Rolando...