terça-feira, 4 de maio de 2010

Canto Curto

O lápis azul

Este passado domingo, juntamente com o espectáculo de futebol que se desenrolou dentro das quatro linhas, assistimos também às cenas mais degradantes que rodeiam o desporto nacional. Neste capítulo estamos ao nível de Croácias, Argentinas e afins…
Até em Espanha, onde a rivalidade entre Barça e Real Madrid está mais assente na sociedade devido a inúmeras questões socioculturais, não se assiste a estes episódios tristes protagonizados por autênticos animais. Recentemente, e depois de um clássico espanhol determinante para o título e da ameaça que pairava sobre os merengues de os seus eternos rivais poderem jogar a final da Champions no seu estádio, presidentes dos dois clubes e treinadores vieram dar uma “bofetada de luva branca” àquilo que se passa no “futebolzinho” português. Florentino Pérez veio a público, depois de todas as declarações polémicas de ambos os lados, dizer que o Barça se fosse à final da Champions iria ser bem recebido no Bernabéu, como se estivesse a jogar em casa. O Barcelona não chegou à final, mas ficou a intenção. Isto sim é dar o exemplo aos adeptos, isto sim é uma mensagem para acalmar as hostes, ao contrário da miséria de dirigismo que existe em Portugal, que só serve para mandar “bitaite” para o jornal e incentivar o crime no desporto: O presidente de um clube profere das declarações mais “violentas” que se pode ouvir, o outro tenta ir atrás e responder da mesma moeda. Uma vergonha este futebol português! Para mais, quando deviam ser os primeiros a dar o exemplo aos seus adeptos e não os primeiros a incentivar a desacatos, que é isso que realmente está nas entrelinhas dos seus discursos. Muita gente não tem noção do barril de pólvora que se vive no futebol português (culpa dos dirigentes dos clubes grandes, sem excepção), que provavelmente só acabará quando houver algum massacre. Só quando existir mortes as entidades competentes vão perceber o quão irresponsáveis são, e no fim não se devia condenar nem a claque de um clube nem de outro, mas sim os seus presidentes. Os dirigentes são os principais culpados disso e, ao contrário do que se passa em Espanha, conseguem lançar ainda mais achas para a fogueira. Neste patamar de “podridão” do dirigismo português incluo também a Federação, porque nada consegue fazer para evitar isto, sem perceber que este clima de rivalidade afasta cada vês mais os portugueses da selecção, levando os clubismos também para esse campo!
Para finalizar quero atribuir a culpa também à Comunicação Social, porque preferem dar grandes páginas a declarações acéfalas dos personagens do costume, ao invés de salientar os grandes feitos noutras modalidades. Esses feitos dos verdadeiros “heróis do mar”, que não são os heróis do dinheiro, da fruta, do chocolate e dos direitos da TV, ficam destinados sempre ao mesmo cantinho. Por exemplo, no jornal Record ao invés de na véspera do Clássico de Domingo,se dar grande destaque a uma antevisão mentecapta do senhor Rodolfo Reis a dizer que o “Porto deveria por gente no túnel a provocar jogadores do Benfica”, poderiam dar ênfase antes, a João Pina, Telma Monteiro, Frederico Gil, Rui Machado, Vanessa Fernandes, Tiago Pires, Rui Silva, Nélson Évora, equipa de andebol do Sporting, equipa de hóquei do Porto, entre muitos outros. Esses sim são os verdadeiros intérpretes do desporto nacional, não os habituais energúmenos que aparecem todos os dias a “babarem-se” nas capas dos jornais, provocando este clima de terror nos estádios portugueses. Para mim, cada vez que uma besta (sim, digo bestas, porque menos fazem que provocar comportamentos animalescos nos seus adeptos) dessas falasse, utilizava logo o lápis azul! Há por aí pelo desporto português quem mereça mais destaque que esta “gentalha”…

João Vasco Nunes

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