sábado, 29 de maio de 2010

«Gostava de ter jogado neste Benfica»


O antigo internacional português Dimas elogia o futebol que valeu o título aos encarnados, fala de Mourinho (e de Itália), do futuro e da Académica, onde tudo começou.

- Gostava de ter jogado no Benfica 2009/2010?

Gostava, se bem que no meu primeiro ano de clube joguei ao lado de grandes jogadores, a equipa fez um excelente trabalho na Liga dos Campeões e partilhei esses tempo com jogadores de elite. Mas o Benfica desta época foi criado para grandes conquistas e jogou um futebol que admiro muito. Revejo-me naquele tipo de futebol.

- Chegou ao Benfica em 94, tinha o clube acabado de ser campeão. Iniciou -se, depois, uma fase conturbada, muitas mudanças de treinador... Percebeu depressa que só muito dificilmente iria ser campeão pelo Benfica?
O Benfica não só manteve a equipa que foi campeã como a renovou. Fizemos uma boa campanha na Liga dos Campeões. Mas a partir de certo momento, houve uma alteração na política das contratações, o que tornou muito difícil a criação de um plantel competitivo. Foi uma fase muito complicada.

- A maioria dos jogadores do Benfica nunca aderiu a Artur Jorge. Muitos foram os problemas de relacionamento entre treinador e atletas. Não foi o seu caso...
Artur Jorge é um dos grandes treinadores do futebol português.
Chegou ao Benfica com a imagem de rígido e disciplinador. Era essa a sua personalidade. Havia, sim, alguma dificuldade de aproximação e de comunicação. Penso que depois do problema de saúde, mudou, talvez porque tivesse passado a olhar para o mundo de outra maneira. Na minha carreira, foi um treinador muito importante. Marcou-me no Benfica e na selecção.

- Seguiu-se a Juventus. Foi uma transferência improvável?

Conseguir chegar ao Benfica foi uma surpresa, conseguir chegar ao Euro96, outra, portanto, estava habituado a surpresas. Tinha acabado de sair a lei Bosman, terminava contrato com o Benfica e a Juventus, após a lesão de um lateral-esquerdo, fez uma proposta. E um dia recebo um telefonema do meu empresário, Luciano d' Onofrio, para ir a Turim assinar. E foi a realização máxima da minha carreira. Participei em finais, alinhei ao lado de grandes jogadores.

- O del Piero ainda joga...
É um exemplo para qualquer jovem.

- Como foram esses tempos de Itália?
Para os italianos, eles e as coisas deles são as melhores do mundo. E quem chega é quase visto como um inimigo. Ainda bem que o Mourinho foi lá dar umas lições.

- Foi praxado?
Não fui bem praxado mas fui gozado, sobretudo por causa da comida. Certo dia pedi parmesão para por numa massa de peixe e pus uma mesa de 10 colegas a gozar comigo.

- Acha que Mourinho sofreu por lá mais do que em Inglaterra?

Não tenho dúvida. Em Inglaterra era visto como uma mais valia para o futebol inglês; em Itália, como uma ameaça.

- Viu o abraço de Materazzi a Mourinho?
Vi e é uma imagem muito marcante. Em Itália, há grandes rivalidades entre os clubes e nem sempre os protagonistas são os jogadores. Cria-se em cada balneário muita fraternidade. Talvez nestes dois anos de Itália Mourinho não tenha sido um homem feliz.

- Porquê?
Pela perseguição. Os ingleses apreciavam Mourinho; Em Itália, o
sucesso dos estrangeiros não é desejado.

- Jogou com ele no Vitória de Guimarães, foram transferidos para o Benfica no mesmo ano. Como vê a carreira do seu amigo Paulo Bento, que continua sem clube?
A carreira do Paulo seguiu uma sequência lógica. Embora muito
rapidamente, deu os passos todos, tendo em conta que já sabia que queria ser treinador. Esta época foi mal planeada e ele acabou por sair depois de ganhar alguns títulos. O meu palpite é que o Paulo tem estado à espera do melhor momento para escolher, porque quer escolher bem. Esteve vários anos num grande clube, sabe que neste momento, em Portugal, só poderá treinar os três grandes e que estes têm a porta fechada - o FC Porto ainda não a fechou, mas estará próximo de o fazer
- , e nesse sentido, a curto prazo, o Paulo vai treinar no
estrangeiro.

- Foi campeão pelo Sporting com Boloni. Qual foi o segredo dessa época?

A qualidade. O Sporting tinha uma grande equipa. Agora falta-lhe
qualidade. Sem qualidade não se vai lá.

- Que características melhor o definiam como jogador?
O espirito de sacrifício. Para mim cada minuto valia tudo, era uma entrega máxima. Não era tão bom tecnicamente quanto outros mas era muito esforçado e batalhador.

- Quer no Sporting quer na selecção foi substituído por Rui Jorge. Como viviam essa rivalidade?
Nunca houve rivalidade Houve sempre um enorme sentido de lealdade.

- Começou a carreira na Académica. É adepto do clube, treinado esta época por André Villas Boas. Este treinador está pronto para treinar o FC Porto?
O André trabalhou com gente de muito conhecimento e implantou na equipa da Académica um futebol agradável. É evidente que um passo tão grande não é fácil de dar, mas ele já trabalhou no FC Porto- além disso tem 32 anos e, portanto, é natural que a comunicação social lhe dedique muita atenção. Mas há mais Villas- Boas espalhados por Portugal.

- O que vai ser o seu futuro profissional?
Nos últimos oito anos preparei-me da melhor forma. Afastei-me
intencionalmente durante dois anos, mas o 'bichinho' voltou e agora estou pronto para arriscar de novo e preparado para assumir todos os desafios e todos os lugares no futebol. Neste momento sou agente de jogadores, mas não é bem a minha vocação. Sinto-me preparado para ser director desportivo ou para ser treinador - continuando na área da formação onde tenho a experiência acumulada na escola que dirijo no Inatel de Lisboa. O momento vai chegar, sei que já esteve mais longe. Tenho três ou quatro cenários, mas o que é para mim fundamental é ser
tido como uma mais-valia. E a Académica está sempre no meu horizonte. Foi lá que me iniciei como jogador, posso voltar a ter lá um novo início.

Fonte: Diário de Notícias

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