sábado, 25 de setembro de 2010

Futebol de Gabinete

Milhões e comissões

Hoje a rubrica será polémica e abordará nada mais, nada menos, que o caso Roberto e a importância crescente do mercado «comissionário» na indústria do futebol.

Numa reunião entre dirigentes do Atlético de Madrid, um empresário famoso do futebol e algumas personalidades conhecidas aqui na região, ocorrida há duas semanas atrás, perto do Cartaxo, foi abordado o tema Roberto e a justificação para o preço da transacção do atleta, na ordem dos 8,5 milhões de euros. Segundo consegui apurar, o “transfer value” do passe foi de apenas 3,5 milhões de euros, sendo que os restantes 5 milhões se destinaram à atribuição de comissões. Neste sentido, foi-me dito que o conhecido empresário terá revelado nesse almoço que os 5 milhões de euros em comissões foram distribuídos em quotas de 20% por um dirigente desportivo do Atlético de Madrid, o Jorge Mendes, o próprio Roberto, o Jorge Jesus e o Rui Costa. Neste momento devem estar a interrogar-se o porquê da comissão ao Roberto, ao Rui Costa e ao Jesus, tal como eu me interroguei.

O mercado das comissões entrou muito na moda nos últimos 5 anos, o que contribuiu para uma inflação brutal dos passes dos atletas na alta roda do futebol. Vejam-se os preços de Anderson, Nani ou mesmo o mais recente Bebé (jogador sem jogos na I liga e até sem a titularidade assegurada no V. Guimarães, mas que sai por 8 milhões de euros). Neste caso, o passe do jogador deveria estar avaliado nem em 3 milhões de euros! Mas pior ainda é o facto de muitas vezes, aparentemente, essas comissões serem atribuídas a agentes sem o mínimo de intervenção nas transacções ou sem constituírem parte interessada como é o caso das 3 personalidades do Benfica que mencionei. No caso de Roberto, a questão foi semelhante à de Saviola, para atribuir um prémio elevado de assinatura como contrapartida de uma redução de salário incomportável aos orçamentos dos clubes portugueses. Mas no caso de Rui Costa e Jesus, a história muda de figura. Sendo as comissões (supostamente) um incentivo para a aceleração das contratações e para “blindar” o acesso de clubes concorrentes à disputa desse jogador, como claramente se viu no caso do Salvio e a disputa entre Benfica e Porto, não deixa de ser criticável o completo branqueamento sobre este tipo de transferências e o desrespeito completo pelo sócio-contribuinte. Ainda mais quando o Benfica, aparentemente, “mascara” parte de uma transferência para canalizar incentivos ao treinador e ao director desportivo.

Não obstante o uso negligente deste sistema de operação de mercado, o mesmo tem as suas vantagens. Segundo apurei através das mesmas fontes, o negócio Robinho-Benfica não se concretizou pela morosidade que o processo tomou porque já estava tudo acordado para rumar ao Benfica, contratos já disponíveis, encontros marcados no Brasil e aceitação do jogador e onde, inclusivamente, esteve presente uma personalidade do futebol bastante conhecida aqui no Cartaxo que pôde comprovar esta situação. No final de contas…acabou por vencer o Real Madrid.


Jorge Manuel Honório, Gestor de risco

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