Petit saiu do bairro, saiu da escola, saiu do nada para jogar com os melhores. Sem dentes, se for preciso Bicampeão português (Boavista-2001 e Benfica-2005), o Pitbull está hoje no Colónia, da 1.ª Divisão alemã
Nas últimas eleições do Benfica, Bruno Carvalho anunciou Petit como mandatário da sua candidatura. Foi uma bomba. Petit na política? Parecia mentira, agora percebe-se que era impossível. Afinal o homem nem sabia o que queria dizer mandatário. Hoje, quando o encontramos em Colónia, di-lo da mesma maneira que chegou a campeão no Boavista ou no Benfica, ou a internacional português: a assumir os erros, as sortes e os azares sofridos pelo caminho.
Já lhe chamam Pitbull aqui também?
Não, aqui por acaso alguns chamam-me Armando. Afinal é o meu nome.
Cristopher Daum, o seu primeiro treinador, dizia que você vinha elevar o nível de toda equipa.
É essa a ideia. O ano passado, quando cheguei, o Colónia tinha acabado de subir à 1.a Divisão. A maior parte dos jogadores tem pouca experiência mas queremos estabilizar o clube a meio da tabela para dentro de alguns anos pensarmos em voos mais altos. Estava habituado a ganhar sempre, agora sou útil de outra forma.
Maniche, seu colega, disse-nos que aqui há menos mordomias. É o regresso ao seu tempo de miúdo?
É um pouco assim, mas principalmente com os mais novos. Lembro-me que quando era miúdo também tratava as minhas botas, já rotas na frente. Metia-lhes graxa para disfarçar.
Lembra-se do primeiro par de botas?
Tinha sete anos e estava no Bom Pastor, o clube onde comecei [no Porto]. Tive de aguentar com elas até ao fim da época, acabei a jogar com um dedo de fora… os campos eram pelados e cheios de lama.
O que lhe ficou marcado da infância?
Comecei a jogar com o Mário Silva lá no meu bairro. Ganhámos um jogo ao Boavista, 2-0, e foi por isso que depois nos mudámos para lá. Nesse jogo eu era defesa central, o Boavista e o FC Porto interessaram-se mas acabámos por escolher o Boavista. Pagaram quinze pares de chuteiras e quinze bolas.
Pelos dois?
Sim, eu e o Mário, quinze pares de chuteiras e quinze bolas.
Mas não chegou a treinar no FC Porto?
Fomos lá mas éramos miúdos do bairro e não sentimos apoio… os outros estavam lá todos com os pais e nós ficámos um bocado envergonhados. Voltámos para o Bom Pastor, ganhámos o tal jogo ao Boavista e fomos para o Bessa.
Já tinha ordenado?
Recebia o valor do passe, para os transportes. Dava para andar em todo o lado, para ir para a escola, para treinar, para ir para a praia ou ao centro comercial.
Falou em ser defesa central, mas chegou a ser guarda-redes.
Na primeira vez fui para o Boavista como guarda-redes. Era grande, pelo menos para as balizas de hóquei em patins! No torneio dos dragõezinhos, no Porto, era guarda-redes de manhã, no escalão de escolinhas, mas à tarde ia jogar como central nos infantis. Entre um jogo e outro ia ao restaurante dos meus pais comer qualquer coisa. Foi como guarda-redes que fui treinar ao Boavista. O meu pai não tinha possibilidade de me levar, dava-me dinheiro para ir de táxi, 200 escudos para lá e 200 escudos para cá, mas um dia a conta já ia nos 250 escudos e depois não tinha dinheiro para o regresso. Mandei parar o táxi, saí, tive vergonha de chegar tarde ao treino, não fui e voltei para casa. Aí o meu pai deu--me… Não fui mais. Voltei ao Bom Pastor e entretanto comecei a jogar a central.
O que fazia mais?
Quando estava a caminho dos treze anos fui operado a um joelho porque tinha uma perna mais curta que a outra. Fiquei parado ano e meio. A escola ficou para trás, lembro-me de ser expulso, não dava mais, disseram-me que eu era... inteligente de mais para a escola. Abandonei e fui trabalhar para o restaurante do meu pai. Trabalhava, ia treinar, depois saía do treino e voltava ao trabalho. Até aos dezoito anos foi sempre assim.
O que fazia no restaurante?
Servia à mesa.
E as gorjetas?
Eram para mim, para, de vez em quando, ir de táxi, quando não dava para chegar a tempo de autocarro. Eu e o Mário. Andámos sempre juntos até aos dezoito, quando fomos campeões nacionais de juniores. Aí o Mário ficou no plantel e eu fui para Esposende. E para a tropa.
Não conseguiu escapar?
Na inspecção meteram-me o carimbo e fiquei apto, não tive hipótese. Tinha contrato com o Boavista mas estava na 2.a Divisão B. Lembro-me que um coronel lá do clube tentou livrar-me mas não conseguiu. Ainda pensei que seria só a recruta mas estive lá seis meses, fui para Santa Margarida [em Constância, Santarém].
O que aprendeu na tropa?
Fiz amigos, passei muitas noites à porta de armas. Ao princípio ia correr sozinho mas depois desanimei, não fazia nada, jogava de vez em quando com o pessoal e pensava que ia desistir do futebol. Quando saí da tropa fui para o Gondomar, dois meses, mas as coisas não correram bem porque não tinha força, nada, perdi o ritmo. No final da época, os emprestados do Boavista treinavam sempre uma semana no Bessa, mas eu não fui. Fui de férias.
Fugiu para o Algarve.
Foi. Não andava bem da cabeça. O meu treinador da altura, Mário Reis, foi com Hernâni Ascensão ao restaurante do meu pai perguntar por mim. Quando regressei, o Mário Reis puxou-me as orelhas e acabei por ser emprestado ao União de Lamas [2.a Divisão de Honra].
O BOAVISTA
Por que razão teve dúvidas? Depois foi campeão no Boavista!
Foram seis meses na tropa e… dificilmente ficava logo numa equipa boa, apesar de ter sido campeão em todos os escalões de formação. Acabei por ir para a 1.a Divisão (Gil Vicente, acabámos a um ponto da Europa) e regressei para ser campeão no Bessa. Um dia estávamos em estágio no Hotel Ipanema e o Jaime Pacheco chamou-me. Normalmente, quando um treinador chama ou é para jogar ou para ficar de fora. E eu pensei: “Já fui.” Ele disse-me que ia jogar e marcar o Totti [da Roma, em jogo de Liga dos Campeões]. Depois o Pacheco achou que estava a ficar com muita moral e, em Faro, tirou-me ao intervalo. Na semana seguinte deixou-me de fora. Passou outro jogo e lançou-me a titular, dizia que queria ver a reacção, que fez aquilo para eu baixar um bocadinho a crista, mas como viu que eu trabalhava sempre da mesma maneira, deu-me o lugar.
Jaime Pacheco foi o treinador mais importante da sua carreira?
Talvez o Jaime Pacheco e o Álvaro Magalhães. O Álvaro acreditou em mim e estreou-me na 1.a Divisão, no Gil Vicente. O Pacheco lançou-me num clube que um ano antes tinha estado na Liga dos Campeões e ficado em segundo no campeonato. O Boavista era o quarto grande, tinha jogadores de qualidade. Ajudou-me, puxou-me as orelhas, eu revia--me nele e ele em mim.
São mesmo parecidos?
Como jogadores e como pessoas. O treino, para o Pacheco, era como o jogo. Tínhamos de treinar de pitons de alumínio e de caneleiras de carbono. Sempre.
Só caneleiras de carbono?
Alguns metiam umas caneleiras de pano, o Vítor Nóvoa [adjunto de Pacheco] ia lá apalpar e éramos obrigados a meter outras. Foi essa disciplina que levou aquele grupo de Pacheco a ter sucesso ano após ano. Depois íamos uns quinze almoçar, levávamos as mulheres e os filhos, passávamos o ano novo juntos e fazíamos karaokes.
Como é que vocês corriam tanto?
Trabalhávamos muito. Lembro-me de nós e o FC Porto jogarmos a um sábado, termos folga a um domingo e na segunda-feira irmos correr para o parque da cidade. Os jogadores do FC Porto andavam em passo ligeiro, a recuperar, e olhavam para nós a fazer sprints. Muita gente suspeitava que tomássemos alguma coisa mas o Boavista era controlado.
Falou-se muito da cafeína.
Dois anos antes houve médicos suspensos. Depois disso, a nossa força vinha do trabalho.
Qual foi o jogo da sua vida?
Talvez quando fui campeão pelo Boavista e depois quando fui campeão pelo Benfica. Na selecção tive muitos… mas os jogos são todos iguais para mim, são todos como se fossem o último.
Uma vez partiu o maxilar [Benfica-Académica, no Estádio da Luz] e a sensação que deu foi que queria continuar dentro do campo.
Sim, pensava que ia continuar. Passei a língua, vi que não tinha os dentes mas julguei que era uma questão de estancar o sangue. Só quando o doutor Bernardo [Vasconcelos] me disse que o maxilar tinha ido para trás é que percebi que estava pendurado. É a minha maneira de ser, dou tudo...
Camacho chegou a irritar-se depois de uma lesão sua. Queria que você soubesse dosear o esforço.
É verdade, mas eu só cheguei onde cheguei por disputar cada lance como se fosse o último. Por isso é que dizem que dou muita porrada.
E não dá?
Naquela posição [trinco] tem de se ser um jogador duro. Se eu não fosse assim, se calhar estava a jogar na terceira divisão ou então não era profissional. Cada macaco no seu galho, cada um faz o seu trabalho e eu sempre fiz o meu, fosse no Boavista fosse no Benfica.
Alguma vez se arrependeu de alguma jogada dentro do campo?
Não, porque eu nunca lesionei ninguém! Há um lance… que foi sem maldade mas podia ter magoado. Foi uma entrada ao Targino, do Vitória de Guimarães, calquei-o por trás para cortar um contra-ataque, era cartão amarelo de certeza. Queria dar-lhe um toque, depois viu-se o pé a torcer. Mas nunca magoei nenhum jogador. Pelo contrário, já me aleijaram várias vezes. E não sou de me queixar!
Deco partiu-lhe o pé, quando ainda estava no Boavista.
Pois foi. Ele levou o pé por cima e eu por baixo, era uma bola dividida… mesmo assim continuei a jogar porque o Pacheco não me deixava sair. Andava com o pé partido no campo a fazer número.
Alguma vez teve medo no campo?
Se tivesse medo não saía de casa. Temos receio quando vemos um jogador de qualidade, um número dez que vai criar dificuldades. Aí tento saber tudo sobre ele para quando chegar o jogo estar preparado. Tinha problemas com o João [Vieira] Pinto, ele fugia muito do meio e se eu fosse atrás dele abria um buraco no centro. Em jogos europeus, o mais difícil foi contra o Barcelona, em casa, na época do Koeman. Foi um massacre, eles podiam ter marcado seis ou sete golos. Não conseguíamos marcar ninguém, entravam por todo o lado, não consegui tocar na bola.
O BENFICA
Nessa época, 2005/06 fez a melhor campanha europeia do Benfica mas falharam no campeonato.
Tínhamos só doze ou treze jogadores, não havia grande concorrência interna, tanto com o Koeman como depois com o Fernando Santos.
Com Trapattoni se calhar tinham menos e foram campeões.
Tínhamos onze! Não havia banco, só que sete ou oito eram portugueses. Depois começaram a destruir a equipa. Eu nunca consegui ficar com quatro, cinco ou seis dos jogadores mais importantes, mudavam sempre de época para época. Assim é difícil. No ano do título éramos poucos mas alguns de qualidade, como o Miguel, o Luisão, o Fyssas, eu e o Manuel Fernandes, o Simão, o Nuno Gomes e o Geovanni. Depois tínhamos dois salvadores, o Karadas, que entrava para bater neles, no ataque ou na defesa, e o Mantorras, que fez golos importantes.
Quando é que ficou mais frustrado?
A época que me ficou atravessada foi 2006/07, quando tínhamos bons jogadores (Karagounis, Katsouranis, Miccoli…) e Fernando Santos. Fomos longe na Taça UEFA e estivemos na discussão do título até duas jornadas do fim. Foi o mesmo, desfizeram-se de dois ou três da equipa base e mais seis ou sete que lá andavam e não jogavam. Este ano mantiveram jogadores e acrescentaram qualidade, os resultados estão à vista. No meu tempo iam buscar jogadores só para dizer que tinham feito contratações.
Lembra-se como chegou ao Benfica?
Um dia chamaram-me ao gabinete do João Loureiro. Luís Filipe Vieira tinha lá estado nessa noite, tinham chegado a acordo, só faltava falar comigo porque eu ainda não sabia de nada. “Vais para o Benfica”, disse-me. “Está tudo acertado.” Fiquei lá umas horas, faltavam uns papéis, depois segui para Lisboa.
Não teve oportunidade de ir para outra equipa?
Houve a possibilidade do Betis de Sevilha, onde ia ganhar mais do dobro.
Foi enganado para o Benfica?
Fui… não fui enganado, a questão é que o meu empresário na altura era o José Veiga, que tinha boas relações com os presidentes do Benfica e do Boavista… Tive contactos com outras equipas – era um jogador apetecível porque tinha ido ao Mundial-2002, tinha 24 anos e era baratinho –, mas o que surgiu foi sempre por outros empresários e as coisas não se concretizaram. Só passado um ano alguns directores me disseram que o João Loureiro recusava as propostas que iam chegando. Tinha de ser o Benfica.
Mas foi ganhar bem?
Não fui ganhar muito mais do que no Boavista. Tinha acabado de nascer o meu segundo filho, houve a mudança, levei a família, esperava ir ganhar isto e aquilo mas depois não se concretizou. Tinha de pagar casa alugada, foi quase como se fosse ganhar o mesmo. Só aos 30 anos consegui renovar contrato, aos 31 acabei por ir embora.
Magoado?
Apareciam jogadores que ganhavam muito mais do que eu e nunca tinham jogado em lado nenhum. Eu, que era internacional pelo meu país, titular e sub-capitão do Benfica, jogava sempre e não via o meu salário ser aumentado. Fiquei triste, até porque também tinha tido a oportunidade de sair para outros clubes. Surgiu o Colónia e fiz pressing para sair, para salvaguardar a minha vida.
Luís Filipe Vieira chegou a dizer que o Petit acabaria a carreira no Benfica.
Sim, disse. Tenho uma excelente relação com ele. Eu queria acabar no Benfica mas também queria ser reconhecido e retribuído por todos os sacrifícios que fiz ao longo dos anos. Acabei por sair e a verdade é que isto aqui é uma maravilha, apesar do Inverno, apesar de às vezes treinarmos com neve até aos joelhos.
A SELECÇÃO
Portugal lá vai ao Mundial.
O jogo que marcou tudo foi aquela derrota 3-2 em Alvalade [Dinamarca], mesmo a acabar. Depois houve o percalço com a Albânia...
A identificação que os jogadores tinham com Scolari existe hoje com Queiroz?
Nunca trabalhei com Queiroz. Sei é que no meu tempo apanhei sempre grandes grupos, muito unidos. Passámos muito tempo a jogar às cartas.
Também era um rapaz envergonhado quando chegou à selecção?
Claro que sim. Antes só via aquela gente pela televisão! Quando lá cheguei alguns tinham sido eleitos os melhores centrais da Europa (Fernando Couto e Jorge Costa), o Figo lutava para ser o melhor do mundo. Nunca tinha imaginado estar perto, quanto mais jogar ao lado deles! Às vezes dizia alguma coisa e ficava à espera a ver o que respondiam, para ver se continuava a falar.
Tratava os craques por tu ou por você?
Até dá vergonha. Não sabia se devia dizer “Figo”, ou “Luís”. Não me conheciam de lado nenhum, nunca tive percurso de selecções, só tinha ido à selecção B fazer dois jogos. Depois saltei logo para a selecção A e era olhado de lado porque era jogador do Boavista.
Quem o ajudou mais?
O Sérgio Conceição ajudou muito, porque ele também é do Norte, também é um brincalhão e um palhaço. E o Capucho… eu às vezes até tinha medo de entrar na sala dos jogadores, ficava no meu quarto, mas depois aparecia o Sérgio Conceição e convidava-me para ir tomar café com eles. Havia muito respeito e às vezes os mais novos tinham de ouvir uma palavra e fechavam a matraca. Se calhar tratei alguém por senhor algumas vezes. Ia dizer “Luís”? Ou “Figo”? Nos treinos eu nem pedia a bola e quando a roubava entregava-a logo a eles, porque tinha vergonha de dizer “ó Figo”, “ó Rui”, “ó Pauleta!”. Ficava no meu cantinho.
Foi António Oliveira que lhe deu a alcunha de Pitbull?
Foi, na Madeira, quando cheguei ao meu primeiro jogo. O Figo perguntou-lhe como eu era e ele respondeu: “Deixa começar a correr, quando o vires a trabalhar e a correr vais ver que parece um pitbull.” E começaram a tratar-me assim.
Alguma vez pensou que ia falar de igual para igual com essa gente toda?
Não, só pensava um dia chegar ao plantel sénior do Boavista. Depois fui querendo mais. Tive uma família que me apoiou, não foi fácil, tive de ouvir críticas porque a minha imagem sempre foi do caceteiro.
Mas a ideia que dava é que sempre esteve a borrifar-se para a crítica.
Eu pouco leio jornais, não me deixo afectar. Não me matam e não vou deixar de comer ou de beber só porque escrevem bem ou mal. Nem sequer via repetições dos jogos. Se fosse a olhar para a crítica se calhar tinha deixado o futebol.
Acha que vai jogar até quando?
Até conseguir ir treinar.
Mesmo com este frio?
Estou a cinco minutos do campo de treino. As pessoas ajudam, os colegas são miúdos que querem aprender e vou tentando ensinar alguma coisa. Estou bem, não tenho lesões musculares, nada, este ano tudo corre bem, treino todos os dias.
Isso quer dizer que anda a cuidar-se, a comer bem e a dormir bem.
Não é só isso, é também a boca. No último ano no Benfica fui criticado por causa das lesões. Aliás, disseram que não merecia ir ao Europeu. Essas lesões tinham a ver com os meus problemas no maxilar. Aqui conseguiram tratar-me É por isso que ainda vou ser operado em Dezembro, para reconstruir um osso.
Ainda volta ao Boavista?
Por enquanto fico por aqui, mas quando voltar vou para o Boavista ajudar a fazer o que for preciso.
Imagina-se o Jorge Silva, o actual capitão, a jogar quase de borla?
Sou capaz, jogarei por gosto e para ajudar, para acabar onde me formei.
A PESSOA
Uma vez foi envolvido nuns apanhados da TVI, com o Fernando Rocha, e não se irritou muito.
Eu tinha dois carros, um Porsche e um Renault, a minha burrinha. Pensei que ia a um aniversário do Jorge Silva, fomos almoçar, quando saio vejo o reboque. “Estão a rebocar a minha burrinha!” O polícia, o Fernando Rocha, começou a acusar-me de não pagar as letras e a chamar-me caniche. Liguei à minha mulher para confirmar e nem me lembrava que já tinha pago aquele carro. O que não estava pago era o Porsche. Bloqueei. Mas não gosto de confusões, só lhe pedi mais respeito.
Explique lá como se envolveu nas eleições do Benfica, como mandatário do candidato Bruno Carvalho.
(desmancha-se a rir) Quer que lhe diga? Estava num restaurante e ligou-me um primo que trabalha no Porto Canal. “Olha, o Bruno, o meu patrão, pergunta se queres ser mandatário da campanha dele.” Eu só tenho o primeiro ano, não sabia o que queria dizer ser mandatário e disse-lhe: “Mete lá aí o meu nome.”
Teve um impacto importante.
Pois teve e eu é que fiquei mal, porque me dou bem com o presidente [Luís Filipe Vieira]. Mandatário! Depois percebi que fiz asneira. Nunca mais falei com Luís Filipe Vieira e ele deve ter ficado zangado. Pensava que era uma coisa qualquer de marketing. Que asneira, as pessoas a ligarem, o meu empresário a perguntar porque me meti naquilo… mas é com estes erros que vamos aprendendo. Vou morrer e ainda vou estar a errar. E a aprender.
Esteve envolvido em muitos episódios destes ao longo da vida?
Quando fui campeão, no Boavista, lembro-me de em Vila do Conde ter dito que os jogadores do Rio Ave receberam dinheiro para nos ganhar. Depois é que vi que tinha feito asneira. No dia seguinte apanhei um avião para Lisboa e fiz um comunicado a pedir desculpa. Se tivesse ido longe na escola se calhar as palavras tinham saído de outra forma, mas com os nervos diz-se tudo.
A sua escola foi outra?
Foi, foi a vida, foi fazer-me à vida.
Fonte: I
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