sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Futebol de Gabinete

O rei vai mesmo nu!

Hoje, e por último, iremos abordar a situação financeira do Sport Lisboa e Benfica S.A.D. relativamente ao que resta analisar do relatório & contas do clube, aprovado em assembleia geral no passado mês de Outubro.

Em termos gerais, o clube viu o activo líquido (bens e direitos da empresa) aumentar 18 milhões de euros, o passivo (dívidas pendentes) agravar-se em 53 milhões de euros e, em função desta desproporção e do péssimo desempenho financeiro do grupo no ano (como vimos a semana passada), os capitais próprios (títulos e capital dos accionistas) caíram de 23 milhões de euros para 11 milhões de euros negativos. A este fenómeno chamamos, em linguagem contabilística, situação de falência técnica e em que basicamente os detentores do capital investido no clube, em linguagem popular, ficaram sem o valor investido, à semelhança do que acontece com o Sporting como também vimos há umas semanas. Esta é uma situação de grande risco já que o clube pode perder o acesso ao crédito se não oferecer garantias válidas como hipotecas ou avales que cubram o montante do capital a financiar. Em causa de necessidade de crédito para cumprir com salários, pagamentos, etc e não lhe for atribuído, o clube pode entrar em incumprimento e os credores declararem contencioso ao clube (o que também parece um pouco irreal já que, provavelmente e em último caso, o Estado daria o aval ou um investidor qualquer entraria na gestão como contrapartida).

Relativamente à análise financeira do clube, verificamos no activo permanente (bens de longo prazo), um aumento de 8 milhões de euros em função do único saldo que registou uma evolução positiva: o valor do plantel. No activo de curto prazo, verificou-se apenas o aumento da dívida a receber de clientes e que, apesar de ser um factor de valorização do clube, não é propriamente uma boa coisa já que “esmaga” a tesouraria do clube. As dívidas são relativas à Benfica Estádio S.A. pelo “naming” das bancadas do estádio que passaram para a Benfica S.A.D.

No passivo, a questão sempre mais preocupante quando se fala nas contas dos clubes, verificamos um desagravamento enorme nas dívidas a pagar a longo prazo (-17 milhões) mas, ao invés, um agravamento exponencial nas dívidas a menos de 1 ano (71 milhões de euros!) o que provocou sérias dificuldades nas disponibilidades e depósitos em bancos e agravou, ainda mais, as necessidades de recorrer ao crédito por compensação da ausência de “dinheiro”. O aumento da dívida circulante é sempre um factor de preocupação para qualquer clube já que implica pagamentos a menos de 1 ano e “esvazia”, deste modo, os cofres do clube caso este não receba atempadamente, provocando uma crescente necessidade de recorrer ao crédito fácil (já não tão fácil). Por seu lado, faz aumentar o custo da dívida (juro) e cria um círculo vicioso de encargos financeiros que poderão por em causa, ano a ano, os desempenhos financeiros do clube no futuro. Basicamente, quanto maior a dívida de curto prazo, mais hipotecado estará o futuro do devedor já que o crédito é absolutamente necessário.

Na origem da alteração da estrutura da dívida (em anexo), está o vencimento de dívidas à banca e que, no caso de não ter sido prolongada a dívida junto do banco (o menos provável), o clube viu-se obrigado a liquidar, no imediato e pelo menos, 78 milhões de euros! Ainda mais, num ano em que registou prejuízos. Obviamente e o mais provável terá sido o prolongamento da dívida com óbvios reflexos no aumento da taxa de juro.

Em conclusão e perante tal descalabro e afastando-me de comentar eventuais receitas que serão recebidas no futuro e mais não sei o quê que se fala muito por aí mas sem grandes certezas de ninguém, o que importa aqui é o hoje e este hoje, sem resultados desportivos e então financeiros, não terá futuro possível.

Jorge Manuel Honório


Ps: é uma análise parecida àquela que é feita às contas do nosso país, embora estas não tenham maneira de gerar riqueza sem ser pelos impostos, já que não há criação de actividade significativa há mais de 10 anos. O que acontecerá daqui a 5 ou 6 anos quando nos endividarmos a 150% e ninguém nos financiar por isso?...

4 comentários:

J.Vasco disse...

E se o benfica for campeão? o caso alivia?

ou pelo contrário, se não for campeão, tudo ainda piora ainda mais?

Jorge Manuel Honório disse...

Não sendo campeão diminuem as receitas. Aumentadas as despesas o buraco vai ser maior. O benfica acabar não acaba, pelo menos não acredito, mas que terá de ir parar a mãos alheias isso provavelmente terá. Não anda por aí muita gente interessada em por 11 milhoes no Benfica, e que se kalhar passarao para 40 milhões se o benfica não ganhar o campeonato.

Anónimo disse...

Eh, eh, vão mesmo ter de vender a Ti Maria pela claúsula, boa sorte.

Jorge Manuel Honório disse...

Aliás, se este ano não se ganhar nada, não vão ter de vender apenas um mas provavelmente uns 3. Eu não sei quem é que vai dar 11 milhões ao Vieira. A dar 11 milhões preferia era logo comprar o clube.

O benfica está a assumir um risco de vida!