sábado, 9 de outubro de 2010

Futebol de Gabinete

Cosa da nostra terra

“É um conjunto de relações e de cumplicidades que têm a ver com aquilo que é poder no futebol, aquilo que é o verdadeiro poder, a arbitragem…o processo apito dourado é apenas uma ponta do icebergue” referia o antigo presidente do Sporting, Dias da Cunha, em 2004, em relação ao famoso sistema que, agora, parece mais evidente que nunca. Foi a primeira pessoa neste inicio de século a denunciar promiscuidades e dinheiros sujos no futebol português e, como se comprova hoje, era uma pessoa bem inteirada do futebol da época, se não notem as datas a que estão reportadas as escutas que foram publicadas esta semana.

A modernização do futebol português parece qualquer coisa de utópica, percaminha, distante do frágil poder dos cidadãos decentes que amam a modalidade e vêm no futebol uma paixão na vida. O incume mafioso que agarrou a modalidade parecia ter os dias contados aquando do surgimento do processo Apito Dourado em que dirigentes famosos do futebol português apareciam em escutas de grande promiscuidade com árbitros, jogadores e empresários e onde se estabeleciam o mais diverso tipos de relações criminosas. Afinal, acabou por não se revelar suficiente como todos pensavam. Segundo os media e a opinião de “peritos” no tema, Pinto da Costa ficara fortemente fragilizado com o processo e não voltaria a ser o mesmo. Curiosamente foi ganhando julgamento a julgamento, sempre em liberdade condicional e com direito a “escolta” especial da claque do clube num verdadeiro ensaio de patriotismo saloio e provinciano à boa moda portuguesa. Esta semana soubemos que alguns dos próprios magistrados do processo foram supostamente corrompidos através de supostos bilhetes para um jogo de Manchester. Mais ainda, temos a certeza que está estabelecida uma promuiscidade entre árbitros e dirigentes “controlados” pelas teias de uma aranha que enredou o futebol português durante mais de 30 anos sem que ninguém, até 2004, se tenha apercebido de tal. Desde sugestões de árbitros para jogos do próprio clube, sugestões de árbitros para jogos de clubes rivais, pressões sobre a elaboração e classificação de árbitros através dos relatórios dos observadores, chantagens com jogadores, prémios a árbitros antes dos jogos, jantares domésticos em vésperas de jogos, etc…etc…etc.

Esta semana assistimos ao quadro do futebol português durante mais de 30 anos de “sistema”, uma modalidade corrompida por interesses outrora inconfessados e conhecidos hoje pela opinião pública, assim como a miserável justiça, porca e corrompida, como a portuguesa, que não consegue actuar fundamentada em leis (criadas por deputados sabe-se lá quais) que não permitem a validação e consideração de escutas em processos judiciais…pelo menos para alguns.

Jorge Manuel Honório, Gestor de Risco

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