PAULO BARBOSA EM ENTREVISTA RECORD/ANTENA 1
R - Quando fala de língua, não podemos deixar de falar do seu domínio da língua russa, que é, certamente, uma mais-valia para si. Este último processo que envolveu o Izmailov, acha que foi bem traduzido em todos os capítulos?
PB - Eu não falo só russo, falo mais línguas. Essa é a mais conhecida porque não há tanta gente que a fale e tenho representado jogadores eslavos. No que diz respeito ao Marat Izmailov, já o disse, é dos jogadores mais profissionais que conheci na minha vida, tão empenhado na paixão pelo futebol. É um jogador exemplar, o primeiro a chegar e o último a sair, que se sacrifica imenso pela equipa, como é conhecido. Aconteceu, por exemplo, antes do jogo com o FC Porto, em que ele esteve no hospital com uma virose, a soro, e passado horas estava a jogar 90 minutos. O que achei precipitado e deselegante foi quando, se calhar por falta de experiência, um director desportivo disse que o Marat não quis jogar com a equipa, mas não dizendo que ele disse "não quero jogar porque não estou em condições de jogar". Penso que isto é das maiores maldades que se pode fazer, ao criar uma ideia que o Izmailov não é o grande profissional que toda a gente conhece. Isto é um vírus que ele não merece.
R - Mas o que lançou mais confusão nas pessoas foi o facto de no dia do jogo com o At. Madrid ele ter viajado para Moscovo?
PB - Sim, mas sobre isso já vou dar uma explicação. Penso que ele ficou extremamente magoado quando teve de sair da Academia e teve conhecimento que disseram que ele não era profissional e não quis ajudar os colegas. Ele ficou tão magoado que fui ter a casa dele e fui ele próprio que o aconselhei a ir a casa. Na sexta-feira ela tinha, em princípio, o dia livre e tinha de ir ao consulado. Eu sugeri-lhe que fosse a casa, descansar a cabeça e ver os amigos, a família, e voltar. Falei com o cônsul, combinou-se que eu próprio iria ao consulado entregar as coisas e nessa noite ele partiu para casa. Ele não jogou para ir para casa, ele não jogou porque foi dispensado e não estava em condições.
R - Há declarações que se lhe são atribuídas em jornais russos, dizendo que o Izmailov não pediu desculpa na entrevista que deu ao jornal do clube. Como ficamos?
PB - Aquilo que ele disse foi que lamentava o facto de não ter comunicado ao Sporting o facto de ter ido ao país dele. Quanto ao resto ele não tinha razões para se desculpar. Desculpar de quê? De não estar lesionado e não poder jogar? Não, ele estava lesionado e ainda está limitado. Ele não pode pedir desculpa de uma coisa que não fez. Ele não pode pedir desculpa por não estar em condições de jogar.
R - Confirma que o Izmailov não fala Português e usa mais o inglês?
PB - Essa entrevista, que foi mais uma declaração de duas ou três frases, foi em inglês. Ele não queria dar a entrevista, porque achava que não era importante, mas foi um pedido do clube e ele limitou-se a fazer pequenas declarações em que, no inglês rudimentar nele, lamentava não ter comunicado essa ida a casa.
R - Não acha que ele devia dar uma conferência de imprensa a esclarecer todo o processo?
PB - Penso que sim, mas para isso era preciso que lhe dessem autorização, mas como se sabe os regulamentos dos clubes não permitem.
R - Depois de tudo o que se passou, ele tem condições para ficar no Sporting?
PB - Penso que sim. Vejamos, quem há menos de um mês recusou partir quando ia ganhar cinco vezes mais e decidir ficar e ajudar o Sporting num período complicado e fazer os jogos mais importantes, com o Everton... Houve uma altura em que as possibilidades de ele ir para o Lokomotiv eram de 100% com uma condição imposta por ele: fazer os jogos com o Everton e com o FC Porto. E no último minuto, ele decidiu ficar.
R - Mas, insiste-se, com um novo diretor desportivo e um novo treinador, há mesmo condições para ele ficar?
PB - Essa pergunta não sou eu que vou responder. Esta história podia ter sido resolvida internamente e ganhou uma dimensão desnecessária. O Marat é culpado num aspecto: muitas vezes ele joga em circunstâncias que ninguém espera que ele possa jogar. Mas ele recupera sempre, sacrifica-se sempre. Pela primeira vez ele não estava mesmo em condições. Ele fez um sacrifício para ficar em Portugal, gosta de Portugal e quer ficar no Sporting. Mas não sei o futuro, pois não depende só de nós. Mas houve um momento em que nos foi feita uma proposta de renovação que nós aceitamos e passados 4 ou 5 dias transmitiram-nos que já não havia condições para essa proposta ser levada à pratica porque o clube tinha perdido alguns objectivos. Fica a ideia que o objectivo era vender por vender.
R - Entre as duas situações houve mudanças na estrutura do Sporting?
PB - Sim, há pessoas novas. Não quero extrapolar, mas quando a proposta foi avançado ele aceitou e passados uns dias essa proposta já não estava de pé. Acho que é um momento importante para as pessoas perceberem que a vontade do Marat era ficar. Há uma questão que vamos ter a resposta no curto prazo e que é saber se às pessoas que estão à frente do clube lhes interessa ou não um jogador com o perfil do Marat.
R - Para com isso justificar a sua saída na próxima época?
PB - A conclusão é sua.
«A minha lealdade é para com os jogadores»
R - No relacionamento do empresário com os dirigentes dos clubes, verifica-se que estes mudam com muito mais frequência que os empresários. Você próprio ao longo de mais de 15 anos já encontrou diferentes dirigentes em vários clubes. O seu trabalho, no fundo, é manter abertos os canais com os clubes e não com os dirigentes dos clubes, porque os dirigentes passam e os clubes ficam?
PB - A minha relação é sempre com os jogadores, é a eles que me decido. Os clubes são instrumentos de trabalho e não há nenhuma razão para não ter as melhores relações com todos eles, desde que sejam com base no respeito e na lealdade. Mas é com os jogadores que devo toda a minha lealdade e dedicação. Por razões históricas, fiz muitas operações com o Sporting.
R - Quantos jogadores tem contratados?
PB - Terei, nesta altura, perto de 30 jogadores em Portugal. Tenho mais no estrangeiro, porque por razões conjunturais trabalho mais fora do que em Portugal. Mas voltando aos clubes. Sempre tive boas relações com os clubes. É público que tive uma boa relação, até de amizade, com o atual presidente do Benfica, mas como todas as coisas da vida, acabou. Com o FC Porto mantive e mantenho uma boa relação, como mantive sempre uma excelente relação com todos os presidentes do Sporting. Com casos complicados como o Cadete, com Santana Lopes, os casos do Carlos Martins, Beto, Pinilla, Varela, com Soares Franco. Não vejo porque não haja relações. O futuro não sei. Acho que os clubes devem trabalhar com toda a gente que tenha soluções concretas.
R - O que vai acontecer ao Marco Caneira?
PB - O Marco Caneira tem contrato com o Sporting. Fez um grande sacrifício para sair do Valencia, é um excelente profissional e a vontade dele é cumprir o contrato, pois ele não assinou contrato para jogar. Jogará quando lhe derem oportunidade.
R - O que tem vindo a público é que, se calhar por ser um jogador do Paulo Barbosa, pode ter os dias contados?
PB - Há uma coisa que posso confessar. Há jogadores a quem já disse "se isso vos ajudar no clube, deixem de trabalhar comigo". Acho que há sempre uma solução.
Fonte: Record
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