segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Canto Curto

Ambição Medíocre

Esta semana deu-se o pontapé de saída para mais uma liga de futebol. Era aguardada com imensa euforia, e na sexta-feira muitos se colaram ao ecrã para assistir ao tão desejado inicio. O que é certo, é que cedo se começaram a defraudar expectativas, e agora que já falta apenas um jogo para o fim da jornada, houve a confirmação dessas expectativas defraudadas. Em sete jogos disputados, seis empates, e alguns deles a zero bolas. A única vitória, também foi exactamente com apenas um golo marcado. O que se passa? Será isto sinónimo de competitividade? Era este o começo esperado?
Na minha humilde opinião, acho que isto é um grande sinal, que com o tempo, o futebol Português está cada vez mais a “cavar” um fosso em comparação aos principais campeonatos da Europa. Temos um campeonato miserável, com um grande desnível entre as duas metades da tabela.
Muitas vezes, os treinadores Portugueses apelidam-se mutuamente de génios da táctica. São considerados como treinadores muito mais cultos tacticamente, que os treinadores de outras nações. Talvez isto tenha acontecido um pouco com a “boleia” que Mourinho deu ao nome do treinador português. Mas para mim, existe uma enorme diferença entre inovar tacticamente, e ser o mestre do “autocarro”.
Ontem ouvia, Carlos Manuel dizer que o Marítimo foi excelente tacticamente. Olha-se para o sucesso deste como treinador, deve ter sido das tácticas excelentes…
Tudo bem que estas equipas mais pequenas, apenas têm que tentar ganhar o seu “pontinho”, mas é exactamente isso que faz deste campeonato uma coisa qualquer que resvala o medíocre. Em Espanha, por exemplo, até o último joga ao ataque. Na Holanda, é como sabemos. Daí até que, há anos atrás, vi uma entrevista de Jorge Jesus, onde dizia que o seu campeonato perfeito seria o Holandês, onde ele poderia pôr em prática a sua táctica favorita…
Antes nesta rubrica, já havia mencionado Jesus, como um treinador que nos trabalhos em Leiria, Belém e Braga se havia destacado, precisamente pelo bom futebol praticado, sendo assim uma excepção a esta regra. Hoje poderei enunciar outro treinador, um jovem que a meu ver nem terá muito potencial para outros voos, mas que apesar disso tem se mostrado com alguma ambição, e tem-se afastado desta linha dos mestres do “autocarro”. Paulo Sérgio! Eu não tive hipótese de visionar o último jogo do Porto, e não é por esse empate na Mata Real, que falo de Paulo Sérgio. Falo sim das duas finais a que assisti, entre Dragões e Pacenses. Duas primeiras partes disputadas “taco a taco”, com muita posse de bola, e por duas vezes a arriscar a meia hora do fim, tirando defesas e colocando avançados. É óbvio que quantidade não é qualidade, e isso não lhe rendeu frutos. Mas Paulo Sérgio deu uma óptima lição de como se contorna este medo dos grandes, e esta “pequenês” que assola os clubes da liga.
Mas existem outros pontos negativos. Estes génios da táctica, conseguem os seus pontinhos em Portugal, mas digam-me quantas vezes, conseguem fazer isto depois mais a sério, nas competições europeias. Ou seja, nunca passam das primeiras eliminatórias, e são “vergados” facilmente por qualquer adversário. Longe vai o tempo, onde o Guimarães eliminava o grandioso Parma. Hoje os tempos são mais de goleadas e afastamentos. Lembre-se os dois anos em que o Setúbal foi goleado pelo “colosso” Heerenven.
Outro contra-senso, que não consigo entender, é o facto de observar o nosso mercado, e ver que se recorre muito ao exterior, Brasil nomeadamente. Ora para mandar um jogador, correr 90 minutos sempre atrás do mesmo jogador, e para não o deixar passar do meio campo defensivo para o ofensivo, não entendo para que é preciso comprar tanto lá fora. Qualquer jogador das camadas jovem faz isso!
Outro aspecto, como é que a selecção pode ter jogadores nacionais, sem ser dos três grandes e vindos de clubes estrangeiros??? Óbvio que é impossível, como é que um jogador de um clube que passa uma época a defender, consegue se impor ao lado de craques que vêem de outras culturas futebolísticas?
Mentira, estes clubes não defendem só! Quando jogam em casa, com equipas ainda piores na tabela, lá tentam assumir o jogo… Mas não conseguem como é óbvio, porque já tão rotinadas ao bloco baixo, às lesões a partir da meia hora de jogo, e por aí fora…
Alguns podem duvidar do que digo. Podem dizer qual é a vantagem de ir discutir o jogo pelo jogo com equipas maiores, quando o resultado acaba sempre por ser desnivelado. Pois é amigos, mas o que hoje é desnivelado amanhã é equilibrado! E é jogando o jogo pelo jogo, que se aprende a jogar, e se adquirem essas rotinas de futebol, não de autocarro. Porque essas derrotas desniveladas, vão fazer que noutros jogos que tenham que assumir, estejam capacitados e rotinados para isso. Ora veja-se o exemplo da Grécia em 2004. Tudo o que era selecção de topo, tinham o esquema ideal para vencer, depois em jogos que era para dominar, perdiam com equipas muito mais fracas, como foi o caso com a Albânia.
Isto também faz com que os grandes, acabem por não se preparar devidamente para quando na UEFA defrontam equipas de outro nível Ora, se estão tão habituados aos jogos onde apenas se tem 30 minutos de tempo útil, e onde não se consegue ter mais de 2 minutos de jogo corrido, como é que querem ver jogos de grande nível…
E assim vai o nosso “campeonatozinho”, onde quem ganha um ponto é rei por um dia, mas não consegue estar no trono por mais de uma época. Assim se joga o futebol em Português, e não é de estranhar que no ano passado, aquando do Barcelona – Bayern, ter tido a estranha sensação de estar a ver um jogo de outro planeta…
Eu não critico os árbitros, mas se neste país fosse um deles, não haveria jogo onde não desse mais de dez minutos de compensação, poderia ser que assim se acabassem “os génios da táctica”… do autocarro!

João Vasco Nunes

1 comentário:

Fábio Carvalho disse...

Tens toda a razão o campeonato português só poderá evoluir quando as equipas pequenas deixarem de jogar com os grandes (e não só) apenas para o pontinho...assim o futebol português não irá ver melhoras...