segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Costinha. "Não jogo há dois anos e isto é uma decisão da direcção"

O último jogo do médio português da Atalanta foi a 2 de Setembro de 2007. Daí para cá, mais de 500 treinos e nem uma convocatória.



A um não lhe pagam o salário e obrigam-no a treinar à parte (Balboa, do Benfica). O outro quer jogar uma época à borla por amor à camisola (Exteberría, do Athletic Bilbao). Durante esta semana, o i contou a história de dois protagonistas com situações completamente opostas. Hoje, é a vez de um terceiro elemento a quem pagam a tempo e horas mas não o deixam jogar: Costinha, o segundo jogador de sempre a vestir a camisola da selecção portuguesa sem ter jogado na 1.a divisão, a seguir a Pauleta e antes de Boa Morte. Treina na Atalanta, da 1.ª divisão italiana. Escrevemos treina, porque já não joga há dois anos. É verdade, fez esta semana, no dia 2, dois anos desde o último jogo oficial de Costinha, numa partida que coincidiu com a sua estreia na Serie A italiana. A Atalanta ganhou 2-0 ao Parma e Francisco José Rodrigues da Costa, vulgo Costinha, jogou 56 minutos. Daí para cá, só um problema físico, mais de 500 treinos e zero jogos. Incrível, mas verdadeiro.

Porque não joga há dois anos?

É uma situação estranha. Larguei o Atlético Madrid no Verão de 2007. Quando surgiu a proposta da Atalanta, fiquei contente porque Itália sempre foi o meu sonho de consumo. No Atlético, não me queriam deixar sair, porque era um jogador querido pelos companheiros e até pelo presidente, que já me propôs seguir uma carreira por lá sem ser como futebolista. Até a minha mulher não queria sair de Madrid. Mas Itália sempre foi o meu sonho. Sempre quis jogar lá. Em Bérgamo, estreei-me e nunca mais joguei.

Mas porquê?

Não sei bem de quem partiu esta decisão. Treino da mesma forma que os outros colegas. Até já perguntei aos treinadores [Luigi del Neri, ex-FC Porto, em 2007/08 e 2008/09, e Angelo Gregucci, em 2009/10] e ambos me disseram que a escolha não era deles. As ordens vinham de cima. É estranho. Se estivesse lesionado ou fora de forma... Quem quiser, desloque-se a Bérgamo e veja os treinos. Corro como os outros, faço os exercícios como os outros, mas nem convocado sou.

Como convive com esta situação?

Não jogo e não sei porquê. É uma pena, mas ainda bem que só passo por isto no final da carreira. Isto não é uma decisão minha, é uma escolha da direcção do clube. Apenas posso treinar. Tudo fica ainda mais estranho quando os tiulares do meio-campo estão lesionados e o treinador chama os jogadores da primavera [juniores]. A Atalanta foi uma oportunidade falhada.

Sem jogar, o fim-de-semana fica mais longo?

É uma dura realidade. Mas para felicidade minha, quando a Atalanta joga fora, o Inter joga em casa. Como gosto de futebol, vou ao Giuseppe Meazza. Sou amigo de Mourinho e ele deixa-me sempre dois bilhetes para mim, mesmo que eu não apareça. Mesmo quando a Atalanta joga em casa à tarde e o Inter em casa à noite, dá par ir ver ao vivo. E ainda tenho o bónus da Liga dos Campeões, para recordar belos tempos em que celebrei o título europeu em 2004, ao lado de Mourinho.

A sua vida sempre foi pródiga em acontecimentos surreais. Assina pelo Valência mas afinal não vai para lá, da 2.ª divisão B para o Mónaco, herói nacional no Euro-00. Como é consegue este ritmo?

É engraçado, não é? [gargalhadas tímidas] A minha vida já deu voltas e mais voltas. Repare, aos 23 anos, estava na 2.a divisão B, com o Nacional. Nunca pensei em subir daquela forma.

Então, conte lá esses episódios todos por ordem cronológica.

Em 1994/95, fiz a primeira época como profissional, no Oriental, 2.a divisão B [26 jogos e três golos]. Ficámos em 11.o lugar e o campeão dessa zona sul foi o Alverca. Em 1995/96, já estava no Machico [30/5], outra vez na zona sul da 2.a divisão B. Acabámos em segundo lugar, a sete pontos do Beja. Na época seguinte, 1996/97, já estava no Nacional [27/4].

Ao lado do Fernando Aguiar, o Robocop.

É verdade. É uma pessoa espectacular, sempre muito brincalhona e amiga. Agora, aquela imagem física dele é impressionante. Por isso, foi tantas vezes contestado, mas construiu uma carreira interessante [Maia, Beira-Mar, Benfica, U. Leiria, Penafiel, Landskrona-Suécia e Gondomar]. E, juntos, subimos à 2.a divisão, sem dificuldade [15 pontos de vantagem sobre o Santa Clara, a 15 pontos].

Eis que apareceu o Valência.

Assinei por cinco anos, mas o mundo desabou quando me encontrei no hotel com o Jorge Valdano [na altura, treinador do Valência e agora dirigente do Real Madrid]. Disse-me que eu era uma contratação do presidente [Francisco Roig] e não dele. Ele queria um trinco como o Mauro Silva do Deportivo, o Guardiola do Barcelona ou o Redondo do Real Madrid. Eu não estava preparado para suportar essa carga de exigência do treinador [despedido na terceira jornada, com zero pontos em nove possíveis]. Então, pedi ao meu empresário para me colocar noutra equipa. Acertei a minha saída com o presidente e tive a possibilidade de ir treinar ao Mónaco. Eles queriam um médio e a primeira opção não aceitou sair do clube, o Paulinho Santos, do FC Porto. Fui eu e, no final do segundo treino, o Tigana [treinador do Mónaco] perguntou-me se eu queria ficar. Respondi-lhe: 'Claro que sim.'

E a vida lá foi fácil?

Nada fácil. Lembro-me da minha estreia na Liga dos Campeões, em Alvalade, com o Sporting. Foi o meu quinto jogo pelo Mónaco e fiquei tão triste. Fui titular e saí ao intervalo, com o Sporting a ganhar 2-0 [acabou 3-0, golos de Oceano aos 4', Hadji aos 8' e Leandro aos 65']. Nessa noite, à saída da mítica porta 10 A, senti que ainda tinha de crescer muito para ser um jogador da Champions.

Melhor foi em 2000, quando o Mónaco foi campeão francês?

Sem dúvida. Era um número infindável de jogadores de topo. Barthez; Sagnol, Christanval, Márquez e Riise; Eu e Lamouchi; Gallardo e Giuly; Trezeguet e Simone. No banco, Legwinski, Prso e dois futuros jogadores do Sporting, Contreras [central chileno] e Farnerud [médio sueco].

Esse Mónaco a viver o período pós-Henry, o homem que lhe deu "a" alcunha

É, esse Henry era danado para a brincadeira. Como eu ia de fato para o treino todos os dias, ele começou a chamar-me de ministro. A alcunha espalhou-se por todos os companheiros e pegou. Alcunhas há muitas mas essa ficou. Até hoje.

À conta disso, foi ao Euro-00?

Devo enaltecer a confiança do seleccionador Humberto Coelho, que me chamou à selecção e nunca desistiu de mim. Além de médio, ele também me via como alternativa a defesa-direito. Fui ao Europeu e até marquei o golo à Roménia, no último minuto, que garantiu a qualificação para os quartos-de-final.

Seguiu-se...

O FC Porto! Em 2001, fui para o FC Porto, que se antecipou ao Sporting e ao Benfica. Só tenho uma palavra e como já tinha dado a minha palavra ao presidente do FC Porto [Pinto da Costa]... É público que o Sporting é o meu clube de coração, mas a minha palavra é sagrada. Nos primeiros anos, com Octávio Machado, houve alguma contestação em redor da equipa. Depois chegou Mourinho, que, entre mim e o Paredes, optou por mim e estou agradecido por isso.

Porque saiu do FC Porto campeão europeu para o Dínamo Moscovo?

O FC Porto já não contava comigo e apareceu o Dínamo Moscovo, cujo presidente queria imitar Abramovich no Chelsea, mas as coisas não correram da melhor maneira. O dinheiro não é tudo na vida e não queria ficar lá para coleccionar euros.

E aterrou em Madrid.

Sim, no Atlético, onde fui nomeado um dos capitães de equipa, apenas duas semanas e meia depois de chegar. E pude voltar a jogar nas competições europeias, através da Intertoto. É um clube com uma massa adepta fantástica, das zonas mais pobres de Madrid e da América do Sul, com muitos equatorianos. Eles enchiam o estádio quando jogavam na 2.a divisão e isso é raro.

Mas entre Moscovo e Madrid, ficou seis meses parado. De que maneira o afectou?

Entre Fevereiro e Junho, não competi. Só treinei em Belém. E os treinos físicos são diferentes dos treinos jogados. Por isso, estava fora de forma no Mundial-06. Por isso, vi três amarelos em cinco jogos. Tenho pena que a selecção fosse penalizada por isso.

Fonte: i

1 comentário:

Tiago Nogueira disse...

footinmyheart.blogspot.com / comenta

abraço ;)