quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Futebol de Gabinete

O declínio nosso de cada dia


Falar de respeito ou cumprimento pelos direitos de um jogador de futebol num país com condições económicas precárias, mas com níveis competitivos acima do “limiar”, é tão perspicaz como colocar um indivíduo que gere uma padaria a pagar para vencer o 1º prémio numa competição de salto em comprimento!

Poucas vezes se colocou a questão de como seria possível um clube como o Estrela da Amadora competir no campeonato português à semelhança do que faz o Real Zaragoza ou o Recreativo Huelva em Espanha. É simples: no futebol, em Portugal, viveu-se anos e anos acima das possibilidades.

O campeonato de hoje (pouco competitivo e prova disso são as goleadas “estonteantes” dos maiores clubes) demonstra que os clubes portugueses andaram anos e anos a viver acima das respectivas capacidades e onde, por exemplo, o Boavista é um autêntico caso de estudo. Aquando da necessidade de regularização de todas as dívidas fiscais para que se concretizasse a inscrição na principal liga de futebol, o Boavista não teve meios de liquidar essas responsabilidades, prova de que não tinha receita suficiente para fazer face às despesas em que ocorria ano após ano e, consequentemente, endividava-se para ir pagando o que podia. O problema do Boavista chegou a um ponto onde já não reunia condições para que alguma instituição de crédito cometesse a loucura de lhe conceder capital de risco tão elevado.

Hoje em dia e com a necessidade de encurtar orçamentos ou, digamos, torná-los realistas acabando com surrealismos como, por exemplo, a previsão de receitas semanais de bilheteiras equivalentes a ter “casa cheia” fim de semana sim, fim de semana não (a maior parte das vezes essa enchente nem a metade da lotação atingia no período de 2 meses, quanto mais num fim de semana), os clubes viram-se obrigados a reduzir a qualidade dos seus plantéis em detrimento de se poderem inscrever nas competições profissionais.

Consequências? São óbvias. Perda de competitividade dos clubes portugueses. Contudo e pela positiva, destaque-se o fim da desvirtualização em que vivemos durante anos e o paralelismo real do nosso futebol à posição do nosso país na senda mundial. Não é, por isso, estranho que países como a a República Checa, a Grécia ou a Eslováquia nos ultrapassem no ranking de clubes nos próximos anos (ou meses). A Roménia e a Ucrânia são um exemplo da última década. Conclusão: no futebol de hoje e com estas condições que imperam, dinheiro é sinónimo de vitórias!


País 2005/06 2006/07 200/08 2008/09 2009/10 Total Equipas
1º Inglaterra 14.428 16.625 17.875 15.000 3.928 67.856 6/7
2º Espanha 15.642 19.000 13.875 13.312 3.928 65.757 7/7
3º Itália 15.357 11.928 10.250 11.375 3.714 52.624 7/7
4º Alemanha 10.437 9.500 13.500 12.687 3.916 50.040 6/6
5º França 10.812 10.000 6.928 11.000 3.333 42.073 5/6
6º Rússia 10.000 6.625 11.250 9.750 2.000 39.625 2/6
7º Ucrânia 5.750 6.500 4.875 16.625 3.000 36.750 2/5
8º Roménia 16.833 11.333 2.600 2.642 2.750 36.158 5/6
9º Holanda 7.583 8.214 5.500 6.333 2.916 30.046 5/6
10º Portugal 5.500 8.083 7.928 6.785 1.666 29.962 4/6


Jorge Manuel Honório

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