quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Futebol de Gabinete

“Multi-milionarização” europeia


É consensual e inequívoco que o futebol tornou-se numa indústria muito para além do simples e puro desporto dentro de campo dos velhos anos 50 e 60. O dinheiro impera nos balanços dos clubes de hoje, como que se esfumando por toda a actividade “operacional”, jogadores e staff técnicos. Mas deverão, os leitores, estar já a pensar que isto não constitui nenhuma novidade, para além de que este fenómeno se começou a evidenciar por volta dos finais de 80, inícios de 90.
Parece-me que assistimos, hoje, passados 20 anos, a uma nova “revolução industrial” no futebol. Uma espécie de ocidentalização e “milionarização” dos clubes e estruturas de futebol, não apenas por via da aquisição de participações maioritárias ou totalitárias em clubes (como, por exemplo, os casos de Manchester Utd ou Chelsea), mas também por via da constituição de fundos de investimento para a aquisição de passes de jogadores e direitos desportivos e de merchandising, inerentes.
Este fenómeno tem tido as suas raízes no campeonato inglês. Por exemplo, nos últimos 10 anos e assim à primeira vista, assistimos à entrada e tomada de posições de milionários em clubes ingleses, principalmente o Chelsea, Manchester Utd e Manchester City (os mais evidentes). Ainda recentemente surgiu a notícia de que também o Portsmouth, em grandes dificuldades financeiras, será salvo por um investidor/tomador pertencente a um grupo árabe, o mesmo que detém a participação no Manchester City. O West Ham será, igualmente, adquirido por uma holding islandesa, liderada por um milionário que viu o seu banco nacionalizado na sequência da crise financeira actual. Olhando, por exemplo, para os patrocínios dos principais clubes ingleses, verificamos um peso avultado de publicidade referente a instituições de países com pouca tradição no futebol (Ver anexo).
Consequentemente, 3 questões muito importantes são colocadas pelos adeptos ingleses, situações que podem, eventualmente, ser decisivas pelo bem ou pelo mal do futebol britânico e, indirectamente, europeu (liga dos campeões):

1. Um eminente e possível perigo de ruptura social pelo misto cultural intensificado e “estrangeirismo” que tem inundado o futebol inglês na última década, correndo o perigo da rota do desânimo e descrença nos valores e cultura de um futebol típico, por tradição, e com padrões imensamente identificáveis. Talvez o futebol mais padronizado e característico na Europa e, quem sabe, no Mundo;

2. A ameaça inerente da “inclusão” lenta e progressiva de jogadores asiáticos e americanos nos plantéis de futebol, de forma a promover uma cultura do desporto rei nos países de origem e com efeitos dramáticos para a competitividade e visibilidade do futebol por terras inglesas;

3. Fruto de avultados investimentos em jogadores e aquisições de clubes, com evidente recurso ao mercado do capital e aos financiamentos bancários para os fins, os clubes da Premier League são, actualmente, os clubes mais endividados do mundo, pelo que uma quebra ligeira nas receitas ou a saída destes accionistas poderá provocar um descalabro financeiro com efeitos repercutivos na banca (crédito malparado, etc.) e sistema financeiro e, por sua via, na economia mundial…
O resto será desnecessário acrescentar!

Os maiores e menores patrocínios nas camisolas dos clubes Ingleses 08/09 (valores anuais)

1.AIG – Manchester United – £14.0 milhões (16,4 milhões de Euros)
2. Samsung – Chelsea – £10 milhões (11,7 milhões de Euros)
3. Mansion – Tottenham Hotspur – £8 milhões (9,4 milhões de Euros)
4. Carlsberg – Liverpool – £7.5 milhões (8,8 milhões de Euros)
5. Etihad – Manchester City – £7.5 milhões (8,8 milhões de Euros)
6. Emirates – Arsenal – £6.0 milhões (7,0 milhões de Euros)

Fonte: Futebol Finance

Jorge Manuel Honório

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