
Procurei sempre ter um comportamento que fosse ao encontro dos desejos da FIFA, ou seja, regularizar uma actividade que vivia na clandestinidade, que era e ainda é um mal que nunca se conseguiu curar. Hoje em dia temos mais empresários clandestinos do que os oficiais no mercado. Legalizar toda a gente é impossível. Há realmente um grande número de agentes FIFA, mas os conflitos sucedem--se. Quando estalam, dizem que não foram eles e tiram a mão do assunto para ficar impunes. São algumas situações deste género que dão mau nome à reputação dos empresários. Portugal foi o primeiro país a ter o primeiro agente FIFA do mundo [Manuel Barbosa, himself].
Em 1995 surgiu a Lei Bosman e a livre circulação de jogadores. Sentiu-se a diferença?
A FIFA só permite contratos de dois anos, mas há uma coisa: dei muitos apartamentos, muitas coisas aos jogadores de futebol e, ao fim de dois anos, o oportunismo deles e das famílias levou-os a que quisessem procurar outro empresário que fizesse o mesmo que eu. Está errado porque nós, quando investimos, não é para ao fim de seis meses ou um ano, o jogador dizer que está com pressa ou virar-se para nós e dizer: "Em dois anos não conseguiste o que eu queria, vou para outro."
Como se tornou no primeiro empresário futebolístico?
Tinha uma agência de viagens e o Borges Coutinho [presidente do Benfica] gostou das recepções que eu fiz ao Benfica, quando o clube foi a França, e convidou-me para vir para Portugal e abrir uma agência, a Mercury. Durante as deslocações do Benfica, senti que o jogador de futebol precisava de mais qualquer coisa. A mulher, por exemplo, dava-lhe uma lista de compras: "Vais ali comprar aquele bâton e este e este." Era um dia de juízo até que disse: "Ei, pára aí, onde vais? Dá-me cá a lista", e eu e os meus funcionários da agência começámos a tratar desses assuntos.
Qual foi a transferência que mais o marcou?
O Mozer. Vários clubes, como o FC Porto e o Barcelona, queriam-no. O Mozer ainda há pouco contou esta história e disse que quando eu lhe apresentei o contrato ele pensava que era para ir para o FC Porto, mas não, era para o Benfica. Mais tarde aconteceu o caso do Valdo, levei ano e meio a resolver o problema, houve uma luta entre grandes clubes: Torino, Marselha, Juventus. Tive sempre o mérito de nunca anunciar como certo algo que não estivesse fechado. O Benfica tem perdido muito por causa disso, anuncia jogadores que depois não aparecem. O FC Porto é mais correcto, mais cuidadoso, só anuncia certezas, não sei se não aprendeu comigo porque eu fui o primeiro a fazer isso. Quando eu dizia que alguém vinha, era porque vinha. Em relação ao Rui Costa, também fui eu que encaminhei o processo. O Rui Costa salvou economicamente o Benfica, protagonizou a maior transferência de todos os tempos no mundo: sete milhões de dólares [em 1994], para a Fiorentina. Ele foi o grande salvador do Benfica num momento de catástrofe económica. O Barcelona, por exemplo, não me interessava. Só pagava metade dos problemas do clube.
Foi pioneiro na matéria. Que balanço faz?
As transferências não se pautam apenas pelo factor económico: se eu ganho, eles ganham mais. Era acusado pelos invejosos e pelos críticos de futebol: de merda fazia omeletas de ouro. Isto porquê? Porque consegui transferências como a do Secretário para o Real Madrid, como a do Agostinho também para o Real e de lá para o PSG.
Depois houve o caso Tapie...
O caso Tapie tem um preço, o preço do homem. Não se vendem, nem se entregam os amigos. Tudo o que fiz no Marselha foi legal e a única coisa que não foi legal fi-la para salvar o Benfica. Fiz coisas extraordinárias pelo Benfica... Não vou dizer nada. Nem os benfiquistas vão ficar a saber, só se um dia me enervar muito. Quando se ama qualquer coisa, faz-se tudo para a salvar.
E sente-se recompensado pelo Benfica?
Tenho uma vantagem sobre todos. Os presidentes passam, o Benfica fica e o Manuel Barbosa continua a ter o mesmo prestígio intocável no clube.
Falou-se que saiu de França dentro da mala do carro...
Isso é outra mentira, mais uma estupidez. Nunca na minha vida isso seria possível, senão não teria sido conselheiro do PSG até 1999. Tudo isso foi uma montagem. A RTP teve um comportamento intolerável. Eu saí ilibado de todas as acusações do tribunal Aix-en-Provence. Fui o único absolvido, eu e o meu advogado fomos comer ostras e beber vinho Chablis para comemorar, mas a RTP deu a notícia de que eu tinha sido preso à saída do tribunal. No dia seguinte, eram seis da manhã e eu já estava em Portugal, tentei entrar violentamente na RTP e não me deixaram entrar em directo para provar que estava inocente e começaram todos a dizer muito espantados: "Oh Manuel estás aqui?!" Nunca pediram desculpas publicamente e o meu nome ficou queimado mundialmente.
Que andou a fazer durante esta ausência?
Um projecto bonito, turístico- -desportivo, aqui em Braga. Infelizmente não deu certo. A crise e outros entraves não permitiram.
Vai voltar mundo do futebol?
Sim, embora tenha consciência de que o terreno está minado. Mas como a mentira tem perna curta e a verdade vem sempre ao de cima, tudo se resolverá.
Como vê os empresários actuais?
Empresários há poucos, há é muitas muletas telecomandadas pelos clubes.
Fonte: I