quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Futebol de Gabinete

Futebol em Família

O cenário de ao passar num espaço verde, num belo fim semana de sol, e poder apreciar inúmeras famílias brincando na relva é uma imagem bastante inspiradora e que se considera, ainda, uma imagem dos nossos tempos. Não está em causa o factor de convivência, óbvio. Mas uma grande diferença prevalece. Lembro-me, nos meus bons anos 90, de estar com a família (nomeadamente o meu primo a quem dedico este texto) e para jogarmos um pouco “à bola”, eu colocava duas pedras ou dois sapatos a fazerem de poste e treinavam-se uns remates. Hoje, ao passar no mesmo jardim, verificamos que os primos já não têm uma baliza mas sim uma espécie de habilidade de trapézio e que se gladiam em correr à volta um do outro num entoar de olés!

É verdade que estamos puramente a falar numa situação “amadora” mas, perante o que se vê, a nível profissional, as escolas ou academias desportivas não estão a conseguir desenvolver atletas com potencialidades distintas, facto que se reflecte passados 20 anos na chamada (por enquanto!) Selecção Nacional Portuguesa. Em duas décadas, comprovámos o aparecimento de jogadores como Figo, Simão, Quaresma, C.Ronaldo e outros com menos brilhantismo. Pensemos, agora, em quantos pontas de lança ou defesas esquerdos, de qualidade semelhante ou razoável, apareceram no mesmo período. ZERO.

Os responsáveis pela formação de atletas na área do futebol em Portugal não estão a desempenhar, como devem, a formação eficiente dos mesmos, caindo na armadilha do sobrepreenchimento de necessidades e na escassez de talentos com qualidades distintas mas que são essenciais para o equilíbrio de um plantel de futebol a longo prazo.

O futebol em Portugal está excessivamente identificado com os médios-ala criativos que, por moda, estão mais aptos “a flectir para o meio” do que a ir à linha centrar. Aliás e sejamos justos, esta não é apenas uma moda do futebol português mas também, em parte, do futebol mundial. Clubes como Inter, Real Madrid ou Barcelona já não têm médios com estas características. Já não existem jogadores (ou existem poucos) com as características de Ryan Giggs, o médio esquerdo, para mim, mais espectacular neste campo. Em Portugal passou por cá, durante pouco tempo, um jogador com algumas destas características. Chamava-se De Franceschi.

A mentalidade imperante é aquela que verificamos ao passar no jardim, constituindo uma realidade que deveria ser atalhada por famílias, clubes e centros de formação. O vasto número de novos centros (muitos liderados por antigos jogadores de futebol) não devem ser um factor de satisfação e/ou suficiência, já que está provado que não possuem a qualidade que precisamos.

Conclua-se, portanto, que é mais útil um fim semana em família à antiga que um dia em academia a aprender futebolês.

Jorge Manuel Honório

1 comentário:

Jota disse...

Essa visão é correcta, mas diria mais... essas modas e essas acrobacias, variam consoante a zona! Nós em Portugal habituamo-nos a ter grandes extremos, e quere-mos imitar essas referências. Como consequência não temos referências noutras posições do campo, logo os miudos não procuram imitar defesas e pontas de lança por exemplo...
No Brasil acontece o contrário, talvez todos os brasileiros queiram ser Romários... hoje em dia mais kaka´s e Ronaldinho´s... daí no Brasil haver muita oferta de criativos e avançados, mas lá escasseiam os extremos, ao contrário de nós!
Na Itália por exemplo, a cultura deles sempre foi defensiva, logo as referências dos mais jovens são os centrais...
Por todo o globo isto se reflecte, e cabe aos senhores do futebol tentar mudar isto (falando no caso português)...
Em jeito de brincadeira: no norte do país todos os jovens se identificam com jogadores viris, logo o FCP ter uma "grande" escola de centrais... mas centrais de caracteristicas incomuns.