quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Makukula: "Nunca percebi se o Quique me elogiava ou se gozava comigo"




O telemóvel turco manteve-se desligado durante dias. Foi do número português que Makukula por fim atendeu. O avançado, nascido no Congo e internacional por Portugal, está longe, em Kayseri, na Turquia, a 800 quilómetros de Istambul. Num clube (Kayserispor) e num mundo (muçulmano) desconhecidos. A marcar golos. E é por isso que sente estar a ganhar a aposta turca. "Já não sabia o que era ser futebolista", confessa ao i. Ao Benfica deseja-lhe tudo de bom. Já a Quique Flores... "Esse treinador faz parte do passado. Do meu e do Benfica."

O Kayserispor não é um clube fraquinho na Turquia?

[risos] Sim, não é um grande clube aqui, mas sinto-me bem onde estou. Mas também o inverso acontece: aqui pouca gente tem acesso à informação sobre a liga portuguesa e nem todos os clubes portugueses são conhecidos. Mas a liga turca é competitiva e nós estamos bem lançados, a meio da tabela.

A escolha pela Turquia foi sua ou não teve outra escolha?

Recebi algumas propostas. Estudei-as e optei pela Turquia. É verdade que estou longe da família e dos amigos e que a adaptação, por vezes, não tem sido fácil. Mas penso que foi a melhor opção. O Kayserispor queria mesmo o Makukula e demonstrou forte interesse em mim. Já há muito que não me sentia futebolista, jogar todos os domingos e sentir que os adeptos contam contigo para marcar golos, percebe? E eu já marquei quatro em seis jogos, tendo-os jogado integralmente.

Continua ligado contratualmente ao Benfica?

Sim, continuo. Tenho mais dois anos de contrato com o clube.

Foi emprestado com opção de compra para o Kayserispor?

Isso é que já não sei...

E espera voltar ao Benfica?

Não penso nisso. O futuro a Deus pertence. Agora quero voltar a ser um goleador, marcar golos. Tenho uma meta: se chegar aos 15, dou-me por satisfeito. Depois, logo se verá o que acontece, se regresso ao Benfica, se fico aqui ou se vou para outro lado.

O que lhe aconteceu no Benfica? Foi contratado por quatro milhões no mercado de Inverno de 2007/08, chegou como grande aposta encarnada e depois foi desaparecendo do mapa.

Sim, de facto é assim. São coisas do futebol. Temos altos e baixos. Cheguei à Luz como uma grande aposta, fiz alguns jogos e golos, só que depois não houve a continuidade desejada e necessária para que a minha carreira prosseguisse.

Nota-se alguma amargura.

De forma alguma. Correu mal, correu mal. Não há nada a dizer.

Chegou a criticar Chalana por o ter afastado da equipa quando a assumiu interinamente.

É verdade, mas agora não quero falar disso. Faz parte do passado. E o passado é o passado. E o Chalana também já não está no Benfica, não é?

E com Quique?

[risos] O que tem Quique?

Quique elogiou-o várias vezes mas nunca apostou em si. E acabou por o dispensar do Benfica.

Ele também faz parte do passado. Do meu e do Benfica. Não vale a pena estar a falar disso.

Mas não é estranho?

Ah, claro que é, não é? Então o homem dizia-me que eu trabalhava bem, falava comigo diariamente, elogiava-me na imprensa e depois eu não jogava? Não cheguei a perceber se ele me estava a elogiar ou a gozar comigo. Não sei se ele teria o plantel na mão ou não. Mas o comportamento dele comigo fez com que eu perdesse a confiança para jogar e treinar. Eu era bom para treinar e não para jogar.

E este ano? Quem lhe comunicou que o clube não contava consigo?

Foi o próprio Benfica.

Foi Rui Costa?

Foram os próprios responsáveis do Benfica.

E Jorge Jesus?

Nunca chegou a falar comigo. Cheguei lá e comunicaram-me que não contavam comigo. E depois, naturalmente, fiquei a treinar-me à parte.

Com Balboa e Jorge Ribeiro.

Sim, com ambos. Sei o que se passou com eles, que foram postos de parte. Eu, felizmente, consegui encontrar uma saída para a minha situação. Só espero que eles consigam o mesmo porque são bons jogadores.

E qual o jogador que mais respeitava no Benfica?

Respeitar, respeitar, bom, tenho um grande respeito pelo Maxi Pereira. Com aquele corpo [1,73 m e 70 kg] não tem medo de nada. Vai a todas as bolas divididas, inclusivamente comigo [1,90 m e 85 kg]. Ia ao choque e tem muita força. E é muito teimoso na disputa de bola. Além disso, o Luisão, que é um grande profissional e líder. Já o Cardozo é o que é: um goleador. Um pichichi [melhor marcador] para os espanhóis.

Fonte: I

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