quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Futebol de Gabinete

Fundos de Investimento no Futebol

Para começar, será indispensável apresentar uma definição acerca do tema: um fundo de investimento trata-se de um agrupamento de diferentes interesses (accionistas do clube, investidores, bancos e outras sociedades), gerido por especialistas da área financeira, aconselhados e consultados por olheiros de futebol independentes que, em parceria com instituições financeiras, pretendem seduzir apostadores/investidores de risco interessados em rendibilidades elevadas a médio/longo prazo (passes de jogadores).

Recentemente, o Benfica entrou num fundo de investimento de jogadores de forma a superar, aparentemente, dificuldades de tesouraria para o cumprimento de responsabilidades contratuais e dívidas a vencer este ano. O “Benfica Stars Fund” é gerido por uma sociedade participada pelo BES.

Segundo apurámos, a criação do “Benfica Stars Fund” entrará com um capital social de 40 milhões de euros mais uma realização de 22 milhões referentes à alienação de participações de jogadores a reverterem para os investidores do fundo (onde participa a tão falada Ongoing de José Eduardo Moniz, público opositor de Luís Filipe Vieira). È sabido, também, que o encaixe dos 22 milhões de euros coincidiu com a maturidade para a liquidação da dívida à Euroàrea, curiosamente no valor de 22 milhões de euros.

Principais restrições

• O fundo não pode deter mais de 60% dos direitos económicos de cada atleta e a Benfica SAD tem de deter um mínimo de 10% por participação.
• Os jogadores que integrem o fundo terão entre 16 e 25 anos e o contrato com o clube não poderá ser inferior a 3 anos.

Vantagens

• Mais investimento em jogadores, já que, para contratar um craque, torna-se muito mais acessível ao clube fazê-lo com a ajuda da participação do fundo na aquisição de parte do passe.
• Partilha do risco financeiro.
• Elevado potencial de rentabilização do atleta.

Desvantagens

• Perda de mais-valias quando um jogador participado é vendido.
• O valor de venda do atleta não reverte a 100% para o clube.
• Perigo do “Third-Party Investment”, termo utilizado em Inglaterra e que consiste na pressão exercida pelo fundo para que jogadores sejam vendidos, havendo interferência clara na negociação entre os 2 clubes. A situação é agravada quando o clube vendedor está em más condições financeiras e a ameaça da extinção do fundo se torna uma realidade. (Ex. Transferência do Tévez para o West Ham United, proveniente do clube brasileiro Corinthians)

A experiência vivida em Portugal por Porto, Sporting e Boavista no chamado “First Portuguese Football Players Fund” não deixou grandes saudades para estes clubes, já que muitas receitas de médio prazo acabaram por “escapar”. No caso deste fundo, os interesses não incidiam sobre a participação de um ou outro jogador, mas sim na carteira/plantel do clube.

No caso do FCP (nos anos de Mourinho), os rendimentos do fundo ultrapassaram os 30% anuais, desde a venda do Ricardo Carvalho, à venda do Deco! Já no caso do Boavista destacou-se, basicamente, a transferência de Bosingwa para o FCP e para o Sporting, 3 jogadores: Quaresma, Ronaldo e Hugo Viana. Nesta altura falava-se, inclusive, do desejo do fundo numa participação semelhante no Benfica, já que, segundo responsáveis do fundo, o clube era “muito atractivo” e atrairia “bastantes investidores”.

O acordo terminou quando os clubes adquiriram a totalidade dos passes dos jogadores que eram detidos pelos investidores, provavelmente em detrimento dos enormes prejuízos causados pela partilha de grandes estrelas como Ronaldo, Quaresma ou Deco.


Jorge Manuel Honório

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