sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Futebol de Gabinete

O mito sportinguista – Parte I

De Alvalade todos recordamos o ano associado à figura mítica de Mário Jardel, goleador brasileiro que bateu o recorde de golos de Eusébio em Portugal e foi o principal responsável pela vitória do Sporting em 01/02. Desde a sua saída, o clube tem-se deparado com a ausência de títulos e com dificuldades financeiras que o obrigaram e obrigam a viver muito abaixo do exigido e desejado para um clube com aspirações nacionais e internacionais.

Com o final dos, ainda assim, poucos anos de glória, mais direcções passaram pelo Sporting e o discurso foi semelhante: “apertar o cinto”. Por abusos cometidos nessa época ou não, desde essa altura que o Sporting não encontra condições económico-financeiras para conciliar a necessidade de investir no plantel e a liquidação das dívidas (essencialmente o passivo bancário).

Duas situações são obviamente visíveis e explicam os tempos de vacas magras: os excessos cometidos noutros tempos e que, em todo o lado, têm de ser pagos a prazo com capital e juros. A incapacidade de gerar receitas competitivas, potencialmente associadas a uma marca forte, o que não acontece no caso do Sporting (ao contrário do que diz o actual presidente). O Sporting não goza de uma marca com o prestígio ou a força da marca Benfica ou, em anos mais recentes, a marca Porto. Uma marca que se divulge facilmente (devido também ao nome “Sporting”, que se confunde com uma marca qualquer de “sport”) ou que esteja associada a grandes vitórias, a grande número de adeptos, a famosos e reconhecidos dirigentes, o que sabemos que não acontece.

Destaco, no entanto, uma situação que me provocou algum espanto aquando da aprovação do relatório e contas de 2008/2009 dos tempos do presidente Soares Franco. Grande parte das receitas associadas à performance do clube na Liga dos Campeões do ano transacto foi absorvida por um crescimento homólogo de 19,5% nos custos com pessoal. Resumindo, os lucros obtidos com a participação bastante positiva do Sporting nesta competição foram canalizados, maioritariamente, para remunerações, pensões, prémios de performance e de utilização. Este é um exemplo, a meu ver, daquilo a que se chama gestão danosa e, ao fim ao cabo, o clube acabou por apurar prejuízos no exercício superiores a 13.000 € (considere-se no mesmo ano em que ficou em 2º classificado na Liga e ultrapassou a fase de grupos na “champions”). De salientar ainda que os resultados operacionais positivos conseguidos em 2007/2008, em nada resultaram já que o clube contabilizou encargos financeiros (juros e participações) superiores.

Num balanço final e menos financeiro, refira-se que o clube peca também por não conseguir realizar investimentos (nomeadamente jogadores) que permitam tirar rendibilidade em campo e receita no papel. Os grandes investimentos, nos últimos 10 anos, foram apenas Jardel e Liédson. O restante foi aposta das escolas (e bem). A situação de falência técnica, a rescisão de contratos com patrocinadores, a falta de títulos, os maus espectáculos de futebol e a descida das receitas em direitos televisivos não contribuíram para o melhorar da situação…que é grave e exige dinheiro, medidas renovadas e novos métodos de gestão.

Jorge Manuel Honório

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