sábado, 12 de dezembro de 2009

Carlão. "Não trabalhei num supermercado mas também já fui pedreiro"

O avançado da U. Leiria defronta hoje Liedson e recorda as dificuldades que viveu na adolescência. Tal como o ídolo.



"Sempre admirei muito o Romário. É um excelente avançado, sabe atacar. E passou pelo meu Flamengo..." Carlão, um autêntico furacão que varreu o campeonato a partir de Leiria, ainda não conquistou nada em Portugal mas festejou, e bem, no domingo, quando o Mengão quebrou um longo jejum de títulos. "Toda a minha família é do Flamengo! Como estava em estágio não segui o jogo em directo, mas tenho tudo gravado e vou celebrar de novo quando vir", diz. E foi através dessa ligação apaixonada que ouviu falar pela primeira vez de um tal de Liedson, ídolo da maior torcida do mundo em 2002. Hoje o dianteiro do Sporting é a maior referência e inspiração do discípulo leiriense. "É como o Romário, um jogador perfeito. E é com esses que tento aprender. Fui seguindo a carreira do Liedson no Flamengo e no Corinthians, agora no Sporting ainda mais. Vejo como se posiciona, os movimentos que arrisca e depois tento copiar." Carlão tem mais 15 centímetros (e quilos) que Liedson. Mas, dentro e fora de campo, prevalecem os pontos de contacto.

"Tudo mudou na minha vida em apenas três anos. Nessa altura, jogava no Bom Sucesso mas fiquei desempregado e com a minha mulher grávida do nosso primeiro filho. Imagina o que senti? Não dá mesmo para perceber...", desabafa. E faz uma pequena pausa antes de ganhar fôlego para seguir uma história sempre em ascensão. "Tinha um grande amigo que trabalhava numa fábrica de lâmpadas. Havia outra solução? Não. Então fui e fiquei dois anos a ganhar 600 reais [perto de 200 euros]. E ainda fazia uns serões extras para ganhar mais uns trocos para apoiar a família."

- Sabe que o Liedson trabalhou num supermercado, entre muitos outros biscates?

- Não sabia. Não trabalhei num supermercado mas também já fui ajudante e pedreiro, tentando sempre não falhar na escola. E não me arrependo de nada!

Agora Carlão fala como se tivesse acabado de marcar um golo. Ganhou moral (por isso, o melhor é não dizer que Liedson assumiu, na sua biografia, que torce pelo Corinthians desde que deixou o Brasil). "Fui artilheiro em todos os torneios de empresas que fizemos e por isso fui ganhando confiança e mais confiança. Até que um preparador físico do São Cristóvão, que acompanhava estes jogos, me convidou para fazer uns testes. Mais: tive a ajuda do meu chefe que, com medo que me acontecesse alguma coisa, e porque já tinha contrato com a empresa, me sugeriu que arranjasse um atestado médico para não haver problemas. Nos amistosos, entrava ao intervalo e fazia golos. Fiquei. Foi o primeiro passo. Depois ainda estive emprestado ao Duque de Caxias, passei pelo América e o Bangu, mas voltei de vez e fiz o estadual da 2.a divisão."

EL DORADO

De repente, o sonho europeu. Via Leiria. "O meu empresário conhecia umas pessoas do clube e vim fazer uns testes. Apostei tudo, queria mesmo ficar. Graças a Deus, correu bem. Fui abençoado e assinei pela União", relembra. Carlão tinha começado a jogar futebol mais a sério apenas com 15/16 anos, em escolinhas que faziam campeonatos a brincar. Seis anos depois, estava em Portugal. E em vez dos 200 euros por mês que recebia na fábrica de lâmpadas, tinha no final do mês dez vezes mais: 2000 euros.

"As dificuldades que tive de enfrentar e superar fizeram-me ver melhor o que é a vida, sobretudo a forma como devemos estar no mundo. Por isso é que tenho tanto orgulho de olhar para trás e recordar tudo aquilo que consegui atingir. Sabe, quando era mais garoto gostava muito de jogar futebol, mas sempre tive duas prioridades: estudar, com o incentivo da minha mãe, e ajudar a família em tudo o que estivesse ao meu alcance. Orgulho-me disso."

Entretanto, com o passar dos jogos (e dos golos), o ordenado do dianteiro brasileiro nascido em Duque de Caxias acabou por ser melhorado. Mas está longe da cláusula de rescisão que tem no contrato - quatro milhões de euros. E, já agora, o direito de preferência do Sporting.

ESTREIA

Carlão pisa hoje o (mau) relvado de Alvalade. Ainda com a camisola da U. Leiria. E não quer ouvir falar de possíveis interessados ou propostas. "Claro que estamos muito motivados por defrontar uma grande equipa de Portugal como é o Sporting, num estádio bonito também. Mas não tenho a mínima intenção de mostrar-me aos responsáveis do clube ou aos outros olheiros, só quero ganhar e ajudar a equipa a recuperar os três pontos que perdemos agora em casa", assume.

- Então e a camisola do Liedson?

- Olha, boa pergunta...

- Não vai tentar trocar de camisola?

- Se puder, claro. Adorava! Mas só estar lá... saiu-me a sorte grande na vida!
E depois? "Aí não tenho dúvidas - quero estar com a minha família. Estou sempre em treinos, jogos, estágios e falar por telemóvel não é a mesma coisa. Mais? Ler a tradução do João Ferreira Almeida do Novo Testamento. Todos os dias aprendo mais alguma coisa boa com Deus." É tudo uma questão de fé, a mesma que norteia a vida de Carlão. No passado, no presente e no futuro. "Clube ou campeonato preferido? Sou profissional, não posso ter. Vamos ver, está tudo nas mãos de Deus. Sporting? Claro que era um sonho..."

Fonte: I

1 comentário:

Unknown disse...

Muitos tiveram as suas vidas bastante complicadas e com o futebol deram a volta por cima.

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Abraços