quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Expert da Bola

Esta semana temos uma rapariga como "expert da bola". Helena Carvalho é finalista de Design e Desenvolvimento de Produtos, neste momento está em Erasmus em Marselha, mas é residente no Funchal (Madeira).


Amor ao Futebol?


A minha experiência futebolística é praticamente nula.

Tenho no entanto carinho especial pelo Marítimo, uma embirração com o Sporting e devoção pela Selecção. Logo, e por isso, o Futebol não me passa indiferente de todo.

Estou a estudar fora e tenho, desta feita, estado atenta ao Olympique de Marseille.

Cheguei quando o campeonato estava a começar.

O que consideramos “amor à camisola” é notoriamente diferente de local para local.

Um jogo dos Verde-Rubros respeita “rituais” que vão desde a bandeira nacional e regional hasteada, a reunião nos cafés ao redor dos Barreiros para “aquecer” as gargantas, seguindo-se pelo hino acompanhados pelos bombos que também martelam sem cessar todo o jogo. Normalmente é um dia familiar, em que até carrinhos de bebé vão enfeitados para a ocasião e o respectivo “mini adepto” vai vestido a rigor.

O Olympique de Marseille (OM) fundado em 1892 é o clube com mais recordes no campeonato e logo um dos mais carismáticos. Foi o único clube francês a ganhar a Champions League (!), isto em 1993. O seu lema: Droit au But, significa “Directo ao Golo”.

Aqui, numa das 3 maiores cidades de França, em que: Paris é a mais conhecida e sofisticada; Lyon a mais arrumada e limpa; Marselha será sem dúvida a mais “rebelde” e peculiar.

Nesta cidade é usual ver-se a polícia de choque preparada para qualquer situação. Curiosamente e depois de verificá-lo eu própria, tem poucas ocorrências com os adeptos do OM. Um jogo com PSG ou Lyon pode revelar-se hardcore, sem dúvida. Mas assisti apenas a um momento caricato: um fulano furioso e embriagado a perguntar quem no autocarro era monegasco (possivelmente queria esclarecer algo com um adepto rival… mas estaria demasiado ocupado a tentar-se manter de pé!).

Mas a cidade no seu dia-a-dia já é bastante agitada. Aqui vive-se um fenómeno diferente. O que a cidade tem de peculiar é a extensa comunidade de outros países e particularmente da Argélia. Facto que se deve claramente à proximidade geográfica.


Ora é aqui que a polícia de choque “entra”.

Enquanto a nossa selecção nacional “se espremia”, e nós saboreávamos essa passagem de forma contida como um alívio, passava-se uma verdadeira batalha sangrenta entre Argelinos e Egípcios.

Em várias ocasiões, franceses aconselharam-nos a não sairmos nas noites dos jogos. Pensámos que fosse pelos jogos do OM.

Entre barcos e carros em chamas, paragens desfeitas, autocarros e metro encerrados, houve momentos complicados que apenas boleias, com pessoas praticamente desconhecidas, nos valeram mais do que andar nas ruas, enquanto adeptos demasiado fervorosos comemoravam algo tão prematuro como desapropriado.

No entanto já lá vão 24 anos desde que a Argélia não se qualifica.

Será caso para tanto?

Apenas nesta fase de apuramento entre o Egipto e a Argélia houve estragos avultados em Cartum, Argel, Cairo e Marselha. Morreram 14 pessoas na sequência de 175 acidentes, houve 254 feridos e um sem número detenções.

Durante os respectivos encontros houve agressões a jogadores, foi criticada a falta de intervenção da FIFA e podemos apenas concluir que não houve nada mais grave apenas por acaso. A sua rivalidade é inquestionável, mas não justifica qualquer dos estragos, nem dignifica a modalidade.

Adeptos que cometem loucuras pelo seu clube, há em todo o lado. Mas mortes?

Que prazer existe em trazer o tal “mini adepto” que falei acima, para um ambiente destes?

Estes adeptos merecem ser brindados com uma vitória no Mundial?

Para mim o Futebol, sobretudo no que toca ao Mundial ou a uma das competições Europeias, deve ser vivido com muita paixão, ansiedade e com as habituais grandes manifestações de orgulho e carinho. Mas também na rivalidade com dignidade, respeito e sobretudo, MUITO FAIR PLAY também fora das 4 linhas!

Helena Carvalho

1 comentário:

Fábio Ferreira disse...

Grande comentário, sim sra, Pica! Gostei muito!


Até eu, nos 4 dias que estive aí, me senti identificado com o Olympique de Marseille, é uma loucura muito grande aí pelo clube, as pessoas não fazem ideia! E viva também o nosso Maritimo!!!