terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Canto Curto

O exemplo que vem do frio

É certo que a Rússia não é um país pelo qual eu morra de amores. A história também não tem muitas ligações às minhas opções ideológicas. Muito menos o clima, que é frio que se farta... pelo menos é o que se consta, porque nunca lá fui nem tenciono ir. Mas, talvez esse frio faça com que os Russos tenham mais "cabeça fria" que os portugueses e restantes "personagens" do nosso futebol. Pelo menos aqueles que não bebem Vodka para aquecer.
Todos nós sabemos a "crise de bastidores" que afecta, ou melhor, contamina o futebol e o desporto no geral em Portugal. Os túneis estão na ribalta nas últimas semanas. Mas desenganem-se aqueles que pensam que isso se passa apenas nos grandes palcos. Apenas, aí existe mais mediatismo, porque situações destas acontecem em todo o lado. Desde os nacionais aos distritais! Eu penso que para além do problema estar no desporto em si, no desportivismo e no "saber ganhar e saber perder",existe um grande problema a nível social no país. É isto o grande transportador de atitudes desmedidas para o desporto. Trocando isto por miúdos, existe uma grande falta de civismo na sociedade de hoje em dia!
É neste ponto que chego à Rússia, esse país que nem é muito do meu agrado. É de um Russo, que por acaso até está inserido actualmente na sociedade portuguesa, que vou falar como um grande exemplo dos relvados nacionais. Ou será melhor dizer que esse Russo é apenas uma excepção à regra?
No ano passado em conversa com um adepto sportinguista, ele falou de um jogador de nome Izmailov, que nunca reclamava uma falta com os árbitros, nunca se envolvia com colegas de profissão de outras equipas, que apenas fazia o seu trabalho permanecendo "cego, surdo e mudo". Foi algo que fui reparando desde então. Em especial destaque este fim-de-semana.
A meio da segunda parte do jogo que opôs o Braga ao Sporting, o defesa central Polga foi admoestado com o cartão amarelo. O Brasileiro estava no banco de suplentes e provavelmente foi advertido por palavras "lançadas" ao árbitro. Quando as câmaras captaram o banco leonino, lá estavam os restantes suplentes a manifestarem-se de forma desordeira pelo sucedido. Entre os quais destacava-se Pedro Silva, esse grande exemplo de Fair-Play, que comparava o árbitro João Ferreira àqueles elementos do circo que servem para nos fazer rir. Mas isto nem interessa para o ponto onde quero chegar. Nessas mesmas imagens e por trás da confusão de palavrões que ocorria no banco do Sporting, lá se via o Russo Izmailov, impávido e sereno como se nada se passasse. Nem esboçou uma palavra, nem sequer uma reacção. De destacar que já havia sido substituído, já tinha feito o seu trabalho e encontrava-se ali a descansar.
Isto sim deveria ser o exemplo para todos os actuais e futuros desportistas. É raro encontrar-mos alguém no seio do futebol nacional com este "espírito" e nem que fosse só por isso, Izmailov já merecia sempre o meu respeito!
Ainda dizem aqueles especialistas (como diz o Pedro Silva) de segunda-feira à noite, que os jogadores de futebol têm a cabeça quente, estão no limiar do esforço físico logo é natural terem reacções menos civilizadas e que todos reagiriam de forma igual. Ora Izamailov conseguiu mostrar-me o contrário, só reage assim quem não tem civismo, e o Russo já mostrou que isso tem que chegue e sobre... para além do talento para jogar futebol!

João Vasco Nunes

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