domingo, 21 de fevereiro de 2010

Ednilson. "Tinha medo do Capello mas era ele o meu guia de museus e monumentos em Roma"



Há dez anos Ednilson substituiu Nakata no Roma-Fiorentina e estreou-se como sénior, lançado por Capello

Pauleta e Boa Morte são os únicos internacionais portugueses que se estrearam na selecção sem ter feito um único jogo na 1.a divisão nacional. O gosto pela aventura levou-os a emigrar bem cedo e só lá fora é que foram vistos cá dentro como jogadores da bola. Ednilson também entra nesse esquema, embora nunca tenha representado a selecção A. Foi, isso sim, um talento que ganhou visibilidade no estrangeiro, mais concretamente em Roma, sob as ordens de um senhor chamado Fabio Capello.

Há precisamente dez anos, Ednilson - campeão de juniores pelo Boavista no Verão anterior, em 1999 - estreou-se como sénior, num Roma-Fiorentina (4-0), para o campeonato italiano. O tempo passou, passou, passou e Ednilson está agora na Geórgia, ao serviço do Dínamo Tbilisi, depois de altos (Benfica e Partizan Belgrado, onde foi campeão sérvio) e baixos (V. Guimarães, Gil Vicente, OFI Creta e AEK Larnaca). Ao telefone com o i, Ednilson risse da efeméride e recorda tudo como se fosse hoje. Mas com saudades desse passado.

Há dez anos, estreou-se como sénior. Em Itália, e logo com Capello. Lembra-se disso?
É pá, obrigado por me devolveres a alegria desse passado. Que glória. Já se passaram dez anos? Chiii, o tempo passa por nós cá com uma velocidade. Bolas, dá que pensar. Estou a rir-me, mas isto não tem graça. A minha vida podia ter sido tão diferente.

Que se passou?
Fui para a Roma aos 17 anos. Na altura, o treinador era o Zdenek Zeman [checo]. Na época seguinte chegou o Capello e ele gostava muito de mim. Mas era sempre suplente com ele, o que era normal porque o plantel tinha muitos talentos para a minha posição, como o Emerson, mas eu queria jogar. E o Benfica interessou-se por mim. Bolas, era o Benfica! O Benfica! Grande em Portugal e em todo o mundo.

A transferência foi fácil?
Sim, apesar de o FC Porto também ter aparecido nesses dias. Mas dei preferência ao Benfica. Antes disso, aconselhei-me com uma série de jogadores, sobretudo os brasileiros, que falavam a minha língua e sempre me ajudaram muito em Roma. Estou a falar de nomes como Cafu, Aldair e Emerson. Mas também ouvi a opinião de Capello.

Que lhe disse ele?
Que se fosse para o Benfica, me ia perder. No fundo, ele teve razão. Também me disse que se eu continuasse em Roma, seria melhor para mim. E a Roma foi campeã nacional no ano seguinte, em 2001. Mas eu queria jogar e saí. Ele [Capello] fez de tudo para me impedir de sair mas...

Como era Capello?
Um senhor. Chamavam-lhe Il Duro, mas é um treinador de topo, muito parecido com o Mourinho [treinador de Ednilson no Benfica em 2001]. Os dois estão a anos-luz da concorrência porque estão sempre atento aos pormenores.

E como pessoa?
Eu tinha medo dele [não te preocupes Ednilson, o Rooney também]. Quando falava com ele, não conseguia olhá-lo nos olhos. É muito fechado, parece que não dá confiança a ninguém mas, de repente, dá-te o mundo. Comigo, foi assim. Eu era dos poucos solteiros do plantel da Roma e passava muito tempo sozinho, porque os casados e os outros com namoradas, mas igualmente muito caseiros, raramente saíam da linha. Estou a rir-me mas é verdade, ainda não tinha a minha mulher [lá ao fundo, ouve-se uma voz feminina e Ednilson ri-se mais ainda]. Acontece que o Capello era o meu guia. Indicava-me que museus visitar, a que monumentos ir, em vez da avenida das lojas.

E o que lhe disse ele antes daquele Roma-Fiorentina?
Pouco, o que estranhei. Até fiquei a olhar para ele, espantado. Estava à espera de uma coisa elaborada e detalhada e ele tranquiliza-me e diz-me só para jogar o que sei.

Fonte: I

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