Agora é que percebo o meu pai!
Tenho permanente na memória a lembrança de quando era mais novo e ia ao futebol com o meu pai. Aquilo que acontece hoje em dia na final da Taça de Portugal, em plena mata, era o que acontecia na minha infância todos os fins-de-semana. Festa, peregrinação, romaria, etc. … Saíamos cedo de casa mais uns quantos amigos, apesar de os jogos serem à tarde. Geralmente esses amigos era toda a “malta” da terra que ia “à bola”. Por volta do meio-dia tiravam-se os garrafões e as bifanas dos carros e seguia a festa!
Contudo, durante toda a época futebolística existiam sempre duas ou três excepções. A desculpa do meu pai foi durante anos a mesma: havia muita confusão. Eu não compreendia e revoltava-me constantemente.
Ainda assim um dia comecei a entender melhor o meu pai. Imagens que tiveram tanto de marcante como de chocante. Tinha os meus 6/7 anos quando assisti na TV pública a tristes incidentes. Não queria acreditar no que via, porque sempre pensei que ninguém fosse capaz de tamanha barbárie. A imagem de um adepto idoso do Boavista a ser pontapeado na cara por dois jovens adeptos do Porto, foi coisa que nunca me saiu da memória. Nunca me esquecerei de tal selvajaria.
Desde esse dia passei a aceitar a ideia do meu pai que alguns jogos não eram convenientes para eu ir assistir. Mais tarde com cerca de 14 anos, assisti pela primeira vez a esses tais “jogos da confusão”. Para mim já não havia a sensação de antigamente, aquela festa que nos levava ao estádio, com jogos a meio da tarde.
Os dias são outros, as tradições já não são as mesmas. Antigamente apenas os adeptos de um clube por semana tinham a alegria de ver o seu clube jogar na TV. Ainda sou do tempo de ter que ouvir os jogos na rádio e esperar pelo marcador a piscar no programa de desporto da RTP2. Sempre que havia um golo em qualquer estádio o marcador actualizava no canto do televisor. Saudades desse tempo!
Passados alguns anos, verificam-se cenas deprimentes envolvendo adeptos de clubes. Claques organizadas que inclusive são apoiadas pelas direcções dos próprios clubes. Até podem dizer que não apoiam as claques, mas uma coisa é certa são as claques que têm acesso a bilhetes mais baratos e isto sem serem sócios do clube. Este bando de cobardes e falhados deveriam ser proibidos de entrar nos estádios e pelo contrário são os primeiros a ter a certeza de adquirir um ingresso para os jogos do seu clube.
Assim como o meu pai não me levava ao futebol quando eu era miúdo, qualquer indivíduo com dois dedos de testa pensa duas vezes em levar a sua criança a um estádio de futebol. É verdade que só se mete em confusão quem quer, mas segundo as palavras do senhor Fernando Mendes da juve leo, qualquer mulher ou criança também serve de troféu. Enfim, lamentável!
É por tudo isto que sinto necessidade de dizer: Obrigado pai por nunca me teres levado a um jogo grande...
João Vasco Nunes
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