sábado, 27 de março de 2010

Futebol de Gabinete

Monopolizados pela TV

Decerto que muitos de nós, incluindo eu, estiveram atentos às declarações do presidente do SLB acerca da justiça associada às receitas televisivas que os clubes portugueses recebem, anualmente. Neste sentido, procurei informar-me sobre a situação e tentei desenvolver uma relação e comparação com o resto da Europa.

Consegui, desde logo, isto:

Uma primeira reflexão «sobe-nos» à cabeça. Não somos «nada» no contexto europeu. Verifico que só as receitas televisivas dos clubes do «top 10» europeu chegam para superar o total das receitas dos 3 clubes portugueses. Ou seja, as receitas dos clubes em Portugal com bilheteiras, mais direitos TV, mais merchandising, mais cativos, etc, todas somadas, não chegam para as receitas televisivas de qualquer um dos dez maiores clubes europeus. Assim sendo, pergunto aos leitores: o futebol que praticamos em Portugal (pelo menos ao nível dos 3 maiores clubes) adequa-se ao valor das receitas que os clubes portugueses recebem das emissoras televisivas? Um futebol que já «exporta» talentos em valores acima dos 20 milhões de euros, um futebol técnico, constituído por grandes talentos individuais e marcado pelo constante aparecimento de jovens estrelas.

Parece-me que, relativamente à receita televisiva, o mercado português do futebol está subavaliado. As emissoras aproveitam a baixa receita dos principais clubes para ganharem direitos transmissivos a preços de saldo. Mais ainda, verificamos que nos outros clubes essa receita representa quase metade da receita total (em Itália até representa mais de 50%), mas em Portugal nem 30% tem de influência na riqueza total gerada.

Vejamos o exemplo actual do Benfica. Segundo os dados possíveis, estima-se que mesmo que o Benfica vá à final da UEFA e vença o campeonato português, a receita televisiva será, todavia, inferior à receita de clubes como o Fenerbahce, o Nápoles ou o West Ham, no encerramento da época.

Concluo, dizendo que me parece que a Federação Portuguesa de Futebol não está a defender os interesses dos clubes portugueses no panorama externo, não procurando, pelo menos, uma das soluções que está à vista, para mim. Defender a abertura das fronteiras portuguesas à competição de empresas estrangeiras com a Sport Tv em Portugal, facto que proporcionaria o fim do monopólio e abriria portas à competição de preços e em que quem pagasse mais, ganharia o direito às transmissões. É assim que funciona o capitalismo de mercado, é assim que se cria justiça e se atribui mérito a quem oferece as melhores condições.

Está na hora de darmos o devido valor à sociedade portuguesa e de colocarmos, nos cargos, responsáveis que saibam dar a mão ao nosso futebol, ao já comprovado grande futebol português que, sem dinheiro, está e estará sempre limitado na alta esfera do futebol mundial.

Jorge Manuel Honório, Finance analyst

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