sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Futebol de Gabinete

Calabote: a verdade da mentira? – I

Em 22 de Março de 1959 viria a suceder O caso, o que daria mais que falar na história do futebol português. O Caso Calabote! Inocêncio Calabote era um árbitro reputado àquela data, originário de Évora e já, por diversas vezes tivera sido distinguido por órgãos colectivos ligados ao desporto. A Comissão central de Arbitragem já o considerara como melhor árbitro português na época 1952-1953 e integrante dos quadros da FIFA em 1953-1954 e 1956-1957.

Benfica e Porto empatados na classificação na última jornada do campeonato. O Porto estava em vantagem no “goal average” tinha 78-22 contra os 71-19 do Benfica que precisava de ganhar por uma diferença superior a 4 golos em relação ao rival. O Porto jogava em Torres Vedras com o Torreense e o Benfica recebia a antiga CUF no estádio da luz. O árbitro do jogo da luz era o tal Inocêncio Calabote. De seguida, passarei a enunciar os factos que, posteriormente, viriam a oferecer maior polémica à jornada e ao final do campeonato que, atenção, acabou por ser ganho pelo FCP:

• O jogo do Benfica começou mais tarde que o do FCP estando os jogos agendados para a mesma hora.

• O Benfica vencia 4-0 ao intervalo e o guarda redes da CUF foi substituído dada a sua prestação na primeira parte ter sido bastante aquém das expectativas e, segundo algumas opiniões da época, a pedido dos próprios colegas. O Porto ao intervalo ganhava por 1-0 e continuava em vantagem, bastando ao Benfica marcar apenas mais um e o Porto mais nenhum.

• No jogo da Luz, 3 golos do Benfica foram de grande penalidade, o que permitiu ao José Águas ultrapassar o Teixeira (FCP) na lista dos melhores marcadores do campeonato.

• O Porto, já no final, acaba por marcar 2 golos, acabando por vencer por 0-3 e tendo que ficar a aguardar pelo fim do jogo do Benfica que, para além do atraso do início, ainda teve um tempo de compensação de 4 minutos (que a somar aos 4 minutos de atraso do início do jogo: 8 minutos no total).

Consequentemente, foi aberto um processo de averiguação aos casos sucedidos no jogo. No final do processo de averiguação, Calabote foi acusado de ter mentido no relatório de jogo, escrevendo que o jogo tivera início às 15h00 e fim às 16h42. Foi, por fim, irradiado do Futebol. Para sua defesa, o árbitro referiu que o seu relógio é que valia e que nunca se enganava porque era acertado pelo relógio da Sé de Évora. Acusado de corrupção, dissera que nunca tinha recebido um tostão. O fiscal de linha referiu que foram precisos 3 minutos para afastar os fotógrafos nos instantes iniciais da partida.

A juntar à defesa, Calabote queixou-se de uma perseguição da nova liderança da arbitragem, devido a casos mais antigos: “O presidente anterior do conselho de arbitragem veio a Évora avisar-me e disse-me: ponha-se a pau que a comissão que entrou vem com intenções de o irradiar”.

Com esta história, ainda hoje muito se especula acerca da verdade desportiva desse campeonato que, apesar de ganho pelo FCP, ficou para sempre a «sombra» de que o mesmo estaria destinado, na «secretaria», ao Benfica.

Na próxima semana apresentarei opiniões e artigos de jornais da época e mesmo alguns relatos de que essa jornada, precisamente, foi, afinal, em benefício do campeão nacional.

Jorge Manuel Honório

1 comentário:

Luis Lopes disse...

nunca é demais relembrar este episódio... principalmente quando se diz que antigamente é que era tudo limpinho...